O ex-prefeito Wilson Zangirolami, morto na terça-feira e enterrado hoje, 9, pela manhã, no cemitério local após concorrido velório na Câmara Municipal, tem tudo a ver com a Olímpia pujante de idos passados porém nem tão distantes, que hoje facilitam a qualquer um administrá-la. Tem tudo a ver, também, com a nova tomada de consciência política que a cidade passou a desfrutar a partir dos anos 80.

Olímpia saía de uma situação de quase-província, para se integrar ao universo das cidades, para a época, modernas. Saía da fase do vai-com-tudo (com seus resultados positivos e negativos) e entrava na era do fazer projetado, estudado, bem articulado. Por isso, às vezes, até por demais demorado. Mas com resultados sempre seguros.

Zangirolami foi parte integrante do período de transição política no país, herdando um governo com duração de seis anos de seu antecessor, Álvaro Marreta Cassiano Ayusso, que também teve mandato de quase seis anos – ele se desincompatibilizou seis meses antes, para disputar uma cadeira na Assembléia Legislativa, mas não chegou lá.

Quando disputou e venceu as eleições em 1982, com mais de 60% dos votos – e contra cinco candidatos adversários-, o país vivia a chamada “quarta fase” de desagregação do regime ditatorial-militar, pleno Governo Figueiredo, que foi de 1979 a 1985, além de passar, depois disso, pela chamada fase de transição do regime ditatorial-militar para um regime liberal-democrático, já no Governo Sarney, que foi de 1985 a 1989.

No ano de 1989 já assumia a prefeitura seu candidato indicado e trabalhado duramente, José Rizzatti, que havia sido seu chefe de Gabinete, para tanto deixando a cadeira que detinha na Câmara Municipal. Zangirolami, para a época em que governou Olímpia, foi responsável por um grande salto na economia local, e também pela implantação do Recinto de Atividades Folclóricas “Professor José Sant´anna”, que à época levava seu próprio nome, e começava a ser chamado de “Wilsão”.

Mais fácil se lembram do Recinto por ser sua obra mais vistosa. Foi a razão de homenagem recebida por ele na abertura do 47º Festival do Folclore. Mas ele trabalhou muito bem, também, na base, no socorro aos mais necessitados e no atendimento dos verdadeiros anseios da comunidade olimpiense. Pode parecer exagero dizer isso mas, durante sua gestão, até pelas particularidades da cidade naquela época, Zangirolami era quase uma unanimidade.

Agora que sua biografia vem à tona, inclusive para o conhecimento das novas gerações – afinal estamos falando de um tempo quase 30 anos atrás -, surge a oportunidade para que alguns “analistas” políticos donos de conclusões apressadas façam uma revisão nos seus pontos de vista, para não parecerem à opinião pública, serem meros “batedores de bumbo” do momento, sem apego aos valores do passado, aos homens que lá atrás construíram e assim formaram toda a base dos dias atuais, sedimentaram caminhos.

É bom lembrar, ainda, que o ex-prefeito ora falecido herdou uma prefeitura em frangalhos economicamente falando, com funcionários insatisfeitos, maquinário sucateado e o bem mais precioso de quem trabalha, o salário, já oito meses atrasado, após cerca de dez anos de incertezas financeiras. É oportuno ressaltar que a capacidade administrativa e a honestidade foram fatores preponderantes para que se pudesse dar uma nova pujança ao desenvolvimento da cidade. Era um governo reto, respeitador da coisa pública e acima de tudo, sem compadrismos e suas consequências, essa praga moderna a infestar o poder público, seja aqui ou alhures.

Primeira medida, sanear as finanças municipais. Devolver ao município a credibilidade perdida. E aos funcionários, o crédito na praça. Fez uma administração limpa, uma das melhores, se não ainda a melhor – se somados todos os aspectos que envolvem o ato de administrar -, da história da cidade. Zuleica Carneiro Zangirolami foi um capítulo à parte em seu governo. Desfraudou na cidade a bandeira da primeira-dama “obreira”, contra os costumes de então, os do chazinho e das “costuras sociais” das cinco da tarde.

Em sua época o substantivo promoção e o adjetivo social passaram a fazer sentido, deixaram de ser meros verbetes de dicionários, surgiram resultados práticos e concretos. Entre seus feitos está a criação da Fundação Olimpiense de Serviços Assistenciais e Comunitários, a tão lembrada ainda hoje, FOSAC.

E para ajudar os mais afoitos a, quem sabe, fazer uma espécie de “revisionismo” histórico, tomamos emprestado texto publicado ontem em um site de notícias da cidade, que aponta ter Zangirolami, como prefeito, construído 20 casas pequenas para carentes, criado a “Casa do Menor”, onde as crianças, além de alimentação e assistência, aprendiam a trabalhar em diversos serviços, como curso de garçons, engraxates, bordadeiras, encadernadores, etc. Adaptou o local e implantou ali o “Recanto da Tia da Nastácia”, então na Avenida Brasil, construiu as creches “Narizinho”, no Santa Ifigênia, “Sitio do Pica-Pau Amarelo”, nas Cohabs I e II, a “Visconde de Sabugosa”, no distrito de Baguaçu, e a de Ribeiro dos Santos.

Também “inventou” a primeira UBS do município, nas Cohabs I e II, a ponte sobre o Córrego dos Pretos e a ponte metálica do Córrego do Matadouro. Construiu e asfaltou uma vicinal ligando a Assis Chateaubriand ao novo e grandioso empreendimento que surgia com seu incentivo, hoje marco industrial da cidade, a Usina Cruz Alta, hoje Açúcar Guarani. A vicinal é a Guerino Bertoco, que segue até o distrito de Baguaçu. Foi na gestão Zangirolami que ocorreu a instalação do Corpo de Bombeiros em Olímpia. E também a instalação da Delegacia Regional de Ensino, depois levada embora nos governos posteriores.

Diz ainda o texto postado naquele site de notícias que “Wilson construiu e inaugurou o então Posto Médico Municipal ‘Dr. Waldomiro Paiva Luz’, nas Cohabs I e II, o novo prédio da Câmara Municipal, antes sem sede própria, asfaltou a Vicinal Natal Breda, construiu a creche da Cohab III e o próprio conjunto ‘Hélio Casarini’, com  mais de 300 casas, o então Pronto Socorro ‘Humberto Mendes de Carvalho’, nas esquinas da Deputado com Forti Neves, asfaltou toda Cohab II, construiu galerias pluviais no Jardim Cisoto e conjunto Luiz Zucca (Cohab II), construiu o Grupo Escolar de Baguaçu”. E detalhe extraído ainda do texto do site: “Sem desperdiçar o dinheiro público.”

Portando, os “guardadores de histórias” que a cidade possui hoje precisam começar a se conter nas “idéias” e afirmações, para não darem pinta de que desconhecem a real história da cidade. Se não, pega mal. E cometem injustiça àqueles que tantas contribuições deram a esta urbe. Apesar dos tempos difíceis, conturbados, fechados e de muitas dificuldades políticas.

Era um trabalho hercúleo, de romper fortes barreiras. Não haviam, à época, as facilidades que hoje há. Portanto, uma análise da história político-administrativa da cidade precisa ser ampla, e sempre amparada no conhecimento detalhado do que ocorreu lá atrás. Só assim ela terá validade. Só assim ela será verdadeira.

Até.