Em 1969, causou grande impacto no mudo cinematográfico o filme “A Noite dos Desesperados”, de Sydney Pollack, um drama existencialista estrelado por ninguém menos que Jane Fonda (como Glória) e Michael Sarrazin (como Robert). Basicamente, o filme trata do seguinte: Durante a grande depressão dos anos 30, muitas pessoas topavam tudo por dinheiro. Uma grande maratona de dança era a única saída para ganhar alguns trocados, e a exaustão era somente um obstáculo que eles teriam que superar. Enredo em tudo similar ao que se observou na manhã e tarde de ontem, sexta-feira, 15, em nossa urbe. A este movimento, a esta correria desenfreada, darei o nome de “A sexta-feira dos desesperados”.

Sim, porque aquilo tudo que se seguiu à publicação de que mais uma empresa com endereço falso havia recebido da prefeitura R$ 605 mil não pode ter outra classificação que não seja desespero de causa. Por que tanta correria? Por que acionar a “máquina mortífera” midiática que, ensandecida, espargia sangue por todos os poros? Até os “ungidos” da máquina e do alcaide, funcionários comissionados, foram chamados ao “front” internetês, todos eles falsamente indignados com o fato. Na verdade, fazendo barulho para surdo ouvir.

De pronto correram à casa da entrevistada em cujo endereço – Washington Luiz, 916 – estava o registro de uma empresa que consta prestar serviços à prefeitura, que na verdade estava situada no 516 daquela mesma rua e, suspeita-se, conforme publicação de hoje do semanário “Folha da Região”, em prédio que teria sido alugado pela prefeitura. O prefeito fez uso e abuso de seu perfil no Facebook, buscando “apoios populares” com a finalidade de “esfriar” o que no “Planeta” estava estampado. Era a deixa que eles buscavam para “virar o foco”. Disse o alcaide que o jornal prestava um “desserviço” à cidade.

Não vejo por aí. Se falhou o jornal em confiar cegamente na Jucesp, falharam a prefeitura e os responsáveis por contratar e pagar a empresa que sequer tinha registro correto na Junta estadual, até agora tida como a mais fiel entidade a ser consultada quando se quer detalhes sobre empresas. Caso da M. Martins Obras-ME, que até agora, salvo a supensão de um contrato pela Daemo Ambiental, e a anunciada abertura de sindicância contra funcionário, nada mais se fez, no âmbito administrativo, visando esclarecer a denúncia.

No caso da “Lucimar Regina Damion Louzada”, a correria e o desespero foram visíveis. A impressão que dá é a de que a prefeitura toda foi mobilizada em torno do assunto. Tudo parou. Era preciso não deixar passar o momento, reverter o leme, e à frente à toda força. Levaram o prestador de serviço e a moradora do 916 a fazerem boletim de ocorrência registrado como calúnia. A força do poder aí se faz presente, já que se tratam de pessoas humildes e como ficou claro, ligadas e dependentes do poder público – o pai de Lucimar Scaranaro é garçom na Câmara Municipal.

Esta mesma moça que ao conceder entrevista ao corajoso ‘foca planetário’, estava toda desinibida, descontraída, e falou o que quis, da forma que quis e como quis. O pai, Antonio, recebeu a reportagem com toda cordialidade possível, com direito a “tour” pela casa e até a apresentação do seu cachorro de estimação, um labrador “vigia” da residência. Portanto, foi um contato bastante amistoso, prazeroso entre cidadãos e repórteres. Nada dessa acintosidade que estão querendo impingir à opinião pública pois, inamistosa, com certeza, deve ter sido a investida do poder sobre tais pessoas, nas quais, de pernas bambas, se escorou em socorro.

O malsinado blog bate-pau, do inclassificável lambe-botas Leonardo Concon, foi o mais doentio formato encontrado para rebater a publicação. Como, aliás, é de praxe. Sempre que o burgomestre ou seus próximos se vêem em dificuldades, apelam para o intempestivo jornalismo de algibeira que ele professa. E por antecipação faz uso da ferramenta que mais sabe manejar: o sensacionalismo por encomenda. Bastou alguém, por algum motivo, confrontar seu patrão por osmose, que lá vem ele, sangue nos olhos, a destratar todos os maléficos seres que ousaram contestar o prefeito dos seus sonhos. Para ele, ao que parece, quem não está do lado do poder, não merece um lugar ao sol.

Enfim, a turma tratou logo de transformar um fato revelador de um possível estado de coisas que ora impera nesta cidade, como um ataque político às “imaculadas” hostes genistas. Logo se apegaram a argumentos falaciosos sobre interesses político-eleitoreiros, quando a gênese de tudo o que se fez tinha – e continuará tendo! – o objetivo claro e insuspeito de trazer à luz aquilo que eventualmente esteja sendo perpetrado na escuridão. Deste caminho o jornal não irá se desviar. Desta caminhada o jornal não irá recuar.

As pedras, aos poucos e ainda que com todas as dificuldades inerentes a situações como estas, serão removidas. A densa nuvem que cobre suspeitas transações, será varrida pelo vento veloz da busca pela probidade, transparência e honestidade no trato com a coisa pública. Não haverá trégua. As portas foram abertas. E sem que para isso tenha o jornal que apelar para armações excusas. Tanto que tudo que ali está, seja na primeira quanto na segunda denúncia, é incontestável. Ou alguém viu por aí eles se explicando a contento.

Não há explicações maiores porque são dados, estes constantes das denúncias, oficiais. Extraídos de documentos oficiais. De nada vai adiantar este artifício usado agora, de tomar para si o testemunho de pessoas humildes e temerosas de seus destinos caso não se submetam a eles. Aí mesmo, nesta questão “barulhenta” da Washington Luiz, falta luz. Por exemplo, por que se calaram sobre os valores pagos? Por que não comentam a coincidência de a empresa começar a funcionar exatamente no primeiro dia útil após a posse do prefeito Geninho? Por que não explicam como era a relação da prefeitura com esta empresa que por mais de um ano tinha endereço que não conferia com o real?

Quem e quando a empresa foi fiscalizada, já que para emitir alvará de funcionamento a primeira coisa a ser exigida é o registro na Jucesp? Quem emitiu o alvará? Se sabemos que pelo menos duas vezes por ano a fiscalização da prefeitura vai às empresas averiguar suas condições, onde os fiscais iam, então? No 916 ou no 516? Ou não iam? O prédio onde a empresa está é ou não de uso do município? Quantos e quais serviços foram feitos na cidade para se gastar cerca de R$ 20.190 por mês, e todo mês, com esta empresa? Todas as empresas que prestam serviço para a prefeitura recebem nesta mesma velocidade, ou seja, à base de 5.9 pagamentos por mês?

E, finalmente, por que intentar contra o editor do Planeta, jornalista Silvio Roberto Bibi Mathias Netto a acusação de calúnia, quando ela não se vislumbra no fato em questão? Ou estou chegando agora? “Outra empresa com endereço falso já recebeu R$ 605 mil”, foi o título da matéria contestada rumorosamente. Onde está a calúnia? A empresa não estava registrada na Jucesp em endereço que não era o dela? Portanto, em endereço falso. Ela já não recebeu mais de R$ 605 mil dos cofres públicos? Então, onde está a calúnia?

Onde estão a imputação falsa, a ofensa à reputação, crédito ou honra de alguém? A difamação infundada? Ou, ainda, no “juridiquês”, “a acusação falsa que fere a honra ou a reputação”; a mentira, a invenção, o embuste? Onde estão? Pode se atribuir à moça do 916 qualquer uma destas definições de calúnia? Na verdade o jornal lhe prestou um serviço e a seus familiares. Amanhã poderiam ser responsabilizados por qualquer fato eventual que viesse a ocorrer com a tal empresa. E como provar que nada tinham a ver com isso?

E quanto à empresa, ela foi “despertada” para o erro crasso de um alegado escritório de contabilidade, que registra a firma em endereço não-verdadeiro – e o que não é verdadeiro é falso – e por mais de um ano ninguém percebe. Agora o erro crasso será corrigido. Tudo voltará ao normal em relação a ela, que não pode ser vista como quem sofreu calúnia, ou qualquer dos outros adjetivos que definem o substantivo feminino.

Na verdade, o caso todo encerra apenas uma moral: a de que necessita-se organização na Administração Pública local. E oxalá fosse só isso que falta a esta trupe que ora nos (des)governa. Mas, que eles cuidem do que lhes compete, o jornal cuidará do que lhe compete. E o que lhe compete é vigiar, fiscalizar, apurar, denunciar ao menor sintoma de qualquer eventual ilícito. Sem medo, temor, assombro. E a quem interessar possa, o aviso: a saga vai continuar. Há no ar um cheiro de que estamos cada vez mais próximos do esgoto.

Fecho este post com um poema de Carla Valente, publicado no site “Carla e os Pigmeus”, que julgo bastante apropriado para o momento: “Escondido por entre as ervas / vi um coelho / a piscar o olho / De orelhinha à banda e rabito alçado / Pisou uma folha / fugiu assustado.” 

Até.