Qual a pertinência de tal comentário nesta altura dos acontecimentos, quando há questões mais sensíveis a serem tratadas – a antecipação do Fefol para julho é uma delas – não sei, mas é Carnaval, e o assunto não poderia mesmo ser outro. Mas quero falar sobre especificamente o “nosso” carnaval. Este de todos os anos, antes na praça, hoje na avenida. E sobre sua imutabilidade, sua falta de originalidade, e até mesmo – por que não? -, sua falta de seriedade. Lembrar que todo ano é a mesma cantilena, a mesma ladainha para justificar o que já é histórico, “pétreo” em nosso “Reinado de Momo”.

Entra prefeito e sai prefeito, uns mais, outros menos, os investimentos, ainda que parcos, são feitos. Houve casos de prefeitos que sequer permitiram que se botassem as escolas para desfilar, alegando falta de recursos, como o ex- José Rizzatti, em sua primeira gestão. Caso, também, do ex- Carneiro, no primeiro ano de seu governo. Lá atrás, Zangirolami (1982-1988) foi grande incentivador, contando a partir dos prefeitos com os quais tive convivência – Marreta é anterior a Wilson, ainda nas minhas idiossincrasias adolescentes.

Anteriormente a Marreta, me lembro vagamento de Ferraz (Dr. Afonso), mas não me lembro daqueles carnavais. Antes, ainda, tenho vagas lembranças das grandes escolas de samba, aquelas que fizeram a história carnavalesca da cidade. As que não vi com os olhos, conheci por publicações locais. Eram grandes carnavais aqueles. Ainda hoje há remanescentes, ou na ativa, a cada fevereiro (ou março, depende), ou apenas observando à distância, com certeza saudosos dos tempos idos. De absoluto que se pode captar naqueles carnavais passados – e falo de um “passado” que tem pouco mais de três décadas – é a criatividade, a originalidade, e o prazer, o gosto, pelo samba de rua.

E residem exatamente aí as diferenças para os carnavais que se fazem por aqui, digamos, de vinte anos para cá. Decaiu em qualidade. Em dedicação, em profissionalismo, e mais que tudo isso, em criatividade, já que no carnaval tudo se cria, tudo se pode criar. Talvez a agremiação que mais perto chegue da escola idealizada é a Samba Sem Compromisso, cujos responsáveis tiveram o cuidado de transformá-la numa associação que existe nos 12 meses do ano. Se bem que a mobilização maior se dê também às vésperas da festa. Mas, há profissionalismo, ali. Responsabilidade. E criatividade. Embora o vazio físico de todos os anos, a Samba Sem é a escola que ainda nos faz acreditar que nem tudo está perdido.

Não podemos deixar de render os devidos créditos à Vem Comigo, ex-Galo Azul, que também ensaiou, nos primórdios, a profissionalização de suas atividades, mas a iniciativa, que perdurou por vários anos, acabou vindo por terra com as dissidências havidas. Mas, enfim, hoje o que mais chama a atenção nos desfiles da avenida é o aparente descaso dos responsáveis pelas escolas com o visual, as fantasias, o enredo, enfim, com o conteúdo propriamente dito. Chega de imitações grotescas. De fantasias “clonadas” de escolas do Rio e São Paulo, já vistas à exaustão na TV, internet e jornais. Ou seja, fantasias e alegorias de visual cansados. O lugar comum carnavalesco.

Que tal o carnaval regional, a “caipiralização” da festa de Momo? Estou certo que teríamos muitos temas locais e regionais para serem abordados. Muitas histórias para contar. Muitas cores para mostrar nas vestimentas, nos adereços, e facilmente, também, é possível até fugir de um tema recorrente, o Festival do Folclore – embora nenhuma escola, até hoje, o tenha traduzido em carnaval a contento. Dá para termos uma festa que até mesmo acabe por se tornar atração turística.

Penso até que a cidade não comporta quatro escolas de samba. Talvez um “mix” delas pudesse resultar em duas, bem grandes e melhor estruturadas, com mais gente trabalhando, mais gente tocando, mais gente desfilando, com maior vibração.

Mas, para tanto, é preciso haver uma conjugação de interesses, uma ampla discussão sobre o tema, aberta aos amantes do carnaval de rua locais, que não são poucos, sabemos. Sim, o carnaval de Olímpia precisa ser rediscutido, repensado, podendo colocar na “roda” das discussões até a possibilidace dele ser agregado ao calendário turístico da cidade. É fevereiro (ou março, às vezes), muita gente ainda está em férias, ou mesmo saem para o passeio carnavalesco, buscam onde melhor podem se divertir. Vê-se por aqui muitos turistas que vêm ao Thermas neste período e saem à noite para ver nosso carnaval. Então, urge que coloquemos na Mesa de debates, também esta possibilidade turística.

E o ponto de partida poderia ser dado pelo Poder Público, que soltaria as amarras do conservadorismo ou do “vai do jeito que for”, chamaria todo mundo para o debate e cobraria, dos carnavalescos, que no mínimo colocassem seus dons criativos à frente da coisa. A verba nem precisaria ser muito grande, até porque a criatividade existe para que se possa dribrar a dureza. Assim, ganham todos. A cidade e seu povo, o Poder Público e as escolas de samba, que num extremo de otimismo de nossa parte, podem até, quem sabe, dependendo da evolução das coisas, começar a pensar em patrocínios, assim fugindo da dependência crônica dos cofres públicos. Isso é possível. Basta querer.

Até.