Não sei nem como classificar o fato. Vingança? Revanche? Retaliação? Ou simples espírito de justiça. Pode ser uma destas alternativas, pode ser todas elas, pode ser nenhuma delas. Mas, o que salta aos olhos neste imbróglio todo é o descompasso que já começa a aflorar no grupo que se pretende oposição ao prefeito Geninho (DEM) ano que vem. A atitude pode se configurar numa espécie de autofagia política, porque um lado estaria enfraquecendo outro, quando os dois lados deveriam estar se fortalecendo.

Ambos tiveram lá suas razões, mas se pudesse atribuir mais ou menos razão a uma das partes, diria que a cidadã Mônica Maria Silva a teria em grau maior e indiscutível. Para quem ainda não atinou para o assunto, falo da atitude de um grupo de médicos, que por meio de um deles, José Augusto Zambom Delamanha, encaminhou na manhã de ontem (quinta, 17), à secretária municipal de Saúde Silvia Forti Storti ofício onde pede o afastamento da conselheira Mônica Maria Silva, do Conselho Municipal de Saúde.

Motivado pelo fato de que ela denunciou ao Ministério Público o não cumprimento dos horários pelos médicos da rede municipal de Saúde, o que resultou na abertura de inquérito civil. Em função disso, alguém foi aos arquivos médicos do INSS e de lá extraiu a informação de que a cidadã é aposentada por problemas de ordem psicológica e, como tal, não podia estar integrando o Conselho. Delamanha afirma que Mônica, conforme documentos que possui, sofre de esquizofrenia.

No ofício foi entregue em mãos à secretária, o médico diz ter tomado conhecimento pelo Planeta de 11 de fevereiro, da instauração de Inquérito Civil contra os médicos, conforme chamada de capa. “Ao ler a notícia fiquei perplexo em relação à representante, pois, por ter informações de que a conselheira da Saúde – representando os usuários -, Mônica Maria Silva, é aposentada pelo INSS por invalidez por problemas psiquiátricos (esquizofrenia), considerada absolutamente incapaz para o exercício da vida civil, não possui capacidade para o exercício do cargo de conselheira, tornando dessa maneira sua permanência naquele Conselho impossível, vez que representa os munícipes na área da Saúde”, segundo publicou o jornal.

O ofício tem a finalidade de solicitar à presidente do Conselho Municipal de Saúde-CMS, “providências no sentido de determinar o afastamento incontinenti da Sra. Mônica Maria Silva por motivos de insanidade mental”, segundo ainda a matéria do Planeta. Cópias idênticas, informa o médico, foram encaminhadas ao promotor Gilberto Ramos de Oliveira Júnior, da 2ª Vara, autor do Inquérito Civil com base na denúncia, e aos demais conselheiros municipais.

Esta é a história surgida nas últimas horas e que, com certeza, deve ter provocado um abalo muito grande no casal formado também pelo artista plástico Willian Zanolli, outro ferrenho fiscalizador da coisa pública, já com registro de várias denúncias de supostas irregularidades em setores diferentes deste governo municipal. Portanto, um ponta importante da lança oposicionista, acaba de sofrer uma fratura. O casal agora acaba de ser vitimado por potenciais parceiros de caminhada político-eleitoral, por meio do chamado “fogo amigo”.

Quando fez a denúncia, Mônica estava imbuida de uma certa coragem cidadã, coisa rara de se ver nos dias atuais e neste governo de turno, que é perseguidor, revanchista e beira o totalitarismo. Mas, não se pode negar, mexeu com uma classe fortíssima e, por si mesma, considerada intocável. O fato de ser aposentada por questões já relatadas acima, a torna, por força de lei, incapacitada para a função de conselheira. Mas, com certeza, não a torna incapaz para exercer a cidadania, fiscalizar o que é pago com dinheiro público. E, vislumbrada uma irregularidade, denunciar, como corajosamente o fez.

A secretária Storti, cumpridora da lei que é, deverá afastar a conselheira. Mas ela não deixará de ser uma cidadã respeitável, por causa disso. E o seu afastamento do Conselho não mudará em nada a situação denuncida por ela. A denúncia continua valendo. O Inquérito na Promotoria seguirá seu curso. O mérito não foi perdido. Até porque seria um absurdo, diante de tantas evidências, jogar tudo na lata do lixo moral por causa desta questão apontada agora pelos médicos. E ainda se houver qualquer tipo de problema na concessão da aposentadoria a ela, nada muda em relação à denúncia.

É preciso deixar claro que, em um estado normal de coisas, a denúncia de agora não deve afetar em nada a anterior. Há uma situação de fato, que precisa ser resolvida, sob pena de alguém ser responsabilizado por isso – o não cumprimento da carga horária pela maioria dos médicos. E há uma situação de direito, que é a aposentadoria da denunciante, com base em laudo médico. Se quiserem ir à forra os médicos agora podem se imiscuir na questão técnica da conclusão do mal que a aflige e a impediria de exercer plenamente sua condição civil. Pode ter problema aí, pode não ter. E vingando esta segunda hipótese, a ação, naturalmente, gerará uma reação.

Mas, o que importa aqui é o fato gerador da reação dos médicos. E este, mesmo a contragosto, a secretária e o Execurtifvo Municipal vão ter que resolver. E, da parte dos médicos, se buscam uma espécie de “reparação” ao que foi denunciado, clamando por lei em justiça, da mesma forma têm que se submeter a esta mesma lei e justiça. A lei de talião buscada pelos profissionai pode saciar a sede de vingança, tornar treva o que devia ser luz. Mas o cerne do problema vai perdurar?

Porque se todo este barulho em torno do tema, pelo menos resultar em correção de rumos, ações e pensamentos, todos nós já teremos ganhado muito.

Até.