Pois é, às vezes boa vontade demais em fazer a coisa certa acaba se tornando um revés, tendo um efeito contrário daquele pretendido. É o caso recente da compra, por R$ 65,7 mil, de um armário “com 16 faces” feita pelo ex-presidente da Câmara, Hilário Juliano Ruiz de Oliveira (PT). É claro que vai uma longa distância entre sua compra e a de seu antecessor, Chico Ruiz (PMDB), mas a comparação é inevitável para o cidadão comum. Que jogou ambos, agora, na mesma vala comum.

Se Chico Ruiz foi execrado pela opinião pública por comprar um painel eletrônico de votação para uma casa com 10 vereadores somente, pela bagatela de R$ 128 mil, gasto comprovadamente inútil, Hilário Ruiz comprou equipamento até justificável do ponto de vista da necessidade da Casa de Leis, mas esta mesma opinião pública entende que pagou um preço muito alto por ele. Assim, por mais que o ex-presidente tente justificar, mostrar que o gasto não foi em vão, que a Câmara necessitava guardar melhor seus arquivos, preservar documentos oficiais e históricos, vai ter cravada em si a pecha de “gastão”, como seu primo terceiro.

O caso ainda vai ganhar repercussão regional. Hoje mesmo a TVTem já havia agendado reportagem sobre a compra, para cujo repórter Ruiz preparara uma batelada de documentos e até filmagem de como era antes e como ficou a guarda dos arquivos após a compra do armário. Mas, é certo que Hilário Ruiz poderia “dormir” sem um barulho desses. Poderia, por exemplo, ter jogado a responsabilidade de resolver o problema da guarda dos arquivos para Toto Ferezin (PMDB), o presidente que assumiu dia 1º passado.

O desgaste, em qualquer decisão que tomasse, ficaria nas costas do atual presidente. Sim, porque se decidisse pela compra do armário, iria ter que explicar isso. Se optasse por deixar as coisas como estavam, poderia, mais tarde, ser responsabilizado por negligência com documentos oficiais. Ou seja, fosse um pouco mais esperto – ou mal intencionado politicamente -, Ruiz teria jogado uma tremenda “batata quente” nas mãos de Ferezin. Mas, preferiu ele mesmo, com toda galhardia, chamar para si esta responsabilidade.

Agora, está pagando o preço. Não o do armário, que este já foi pago à vista. Paga agora Ruiz o preço político de ter que se explicar sobre a compra. Talvez até junto ao Ministério Público, que seu primo terceiro não perdeu tempo em perpetrar uma vingançazinha básica, correndo a recolher informações e documentos na Câmara, para representar contra o ex-presidente, da mesma maneira que este representou contra aquele por causa do painel eletrônico. Pode ser que o MP entenda haver gasto indevido e instaure inquérito civil, pode ser que aceite as justificativas de Ruiz e mande arquivar a representação. Se aceitar, pode virar Ação Civil Pública, como a que Chico responde hoje, já tendo condenação para devolução do dinheiro gasto.

O tópico principal da justificativa de Hilário Ruiz para a compra é a comparação entre o preço pago pelo arquivo de “16” faces que comprou com o que foi pago por outras câmaras para equipamento idêntico. Diz Hilário Ruiz que o tal arquivo é comprado por faces. Como o de Olímpia tem 16, cada uma delas saiu a R$ 4.106,25. O arquivo é maior que um homem – tem 2,45m. de altura por 1m. de largura. Foi comprado da empresa D. Palmeira de Lima Móveis-EPP, de Catanduva. O pagamento foi à vista – R$ 65,7 mil -, no dia 21 de dezembro de 2010.

Exemplos usados por Ruiz são as Câmaras de Lorena, onde cada face do “armário de segurança com trava eletrônica e abertura por senhas programáveis e chave mecânica para abertura emergencial” custou R$ 9,44 mil (a fornecedora é de Tabapuã); Osasco, onde cada face custou R$ 4.367,65 (cujo fornecedor foi o mesmo de Olímpia); Poá, onde cada face custou R$ 5,935 mil (fornecedor de Tabapuã); Cotia, cuja face custou R$ R$ 4.533,46 cada (fornecedor? O mesmo de Olímpia); Monte Mor – R$ 5.074,46 cada face (o mesmo fornecedor de Olímpia); Itatiba – R$ 4.743,75 a face (comprada do fornecedor de Tabapuã); e a única onde o valor por face ficou menor, Mogi-Guaçu – R$ 3.977 (do mesmo revendedor de Olímpia). Compras estas, todas feitas entre 2008 e 2009.

Portanto, é assim que Ruiz justifica sua compra. Atestando que ela foi feita a preço de mercado, e abaixo daquele pago por quase todas as demais câmaras onde pôde obter documentos. Mas, o cidadão há de se perguntar: e daí? Forçando-nos a concluir que Hilário Ruiz deu-se um bem calibrado “tiro no pé”, depois de fazer uma gestão sem reparos à frente do Legislativo. E ele vai ficar “mal na fita” mesmo alardeando que devolveu à prefeitura, no final do mês passado, R$ 290 mil. Porque o cidadão, incontinenti, vai sentenciar: se não comprasse o tal arquivo, teria devolvido R$ 355.700! E, como é sabido, ‘Vox Populi Vox Dei’….