O episódio verificado na noite de ontem na Câmara Municipal de Olímpia, se não nos dá outras lições, nos prova, de uma vez por todas, que a união faz a força. Mais que isso, até, que o poder público, quando confrontado com grupos unidos de qualquer categoria de trabalhadores, recua em suas decisões quando claramente equivocadas na origem. Malgradas as manifestações de alguns personagens envolvidos direta ou indiretamente na questão, o que se viu ontem à noite, foi a mais legítima manifestação democrática de uma categoria.

Ali estavam pouco mais de 100 funcionários públicos municipais, quer entenderam ser necessário ali estar naquele momento, porque o que estava em jogo era do seu interesse mais direto – a redução em 5% no percentual mínimo da gratificação por insalubridade. E ninguém mais legítimo que o próprio trabalhador, para garantir seus próprios direitos. Houve manifestações que desagradaram alguns? Houve. Diante do que se ouviu ali, e considerando o espírito preparado dos municipais, a reação, digamos mais natural, haveria de ser mesmo aquela – de vaiar uns e outros. Que, aliás, se fossem aplausos, não os incomodariam.

Houve excessos por parte de alguns? Também houve. Por exemplo, a fala do ex-vereador e presidente interino da Associação dos Funcionários Públicos Municipais de Olímpia-AFPMO foi recheada de questões que nada contribuíram para o aclaramento do debate. As intervenções do lider do prefeito, vereador Salata (PP), também de nada serviram para jogar luz na questão. Nervoso, faltou com o respeito até mesmo com a vereadora Priscila Foresti, a Guegué (PRB), causando desconforto em algumas mulheres ali presentes. Salata foi, no mínimo, rude, com a vereadora.

Sua fala, em tom agressivo, denotava seu descontentamento profundo com o que estava defrontando ali. Por isso, ao fim de sua fala e até mesmo nas vezes em que se preparava para falar, a platéia ou vaiava, ou se mostrava ruidosa nas galerias. O caso de Agnaldo Moreno, o Lelé (DEM), pode ser classificado como um momento hilário da noite, embora a vaias. Mas, estas ocorreram por um “deslize” verbal e de raciocínio do vereador, que depois teve a chance de consertar e se fazer entender melhor, a aí até foi aplaudido.

Outros vereadores da situação também receberam aprovação, como no caso Primo Gerolim (DEM). Mas, com Salata não teve jeito. Talvez por ser a expressão daquilo que os municipais ali estavam a contestar: a “expropriação” do que lhes é devido, por direito. O projeto de Lei complementar foi retirado da pauta, com pedido de adiamento de votação feito pelo líder do prefeito. Agora deverá haver uma sessão técnica, para que todos os interessados possam debater o tema.

Da assessoria do prefeito vem a informação de que esta “quebra” de 5% na insalubridade será inócua, não atingirá ninguém, por força de leis e questões específicas de cada categoria. Mas, se é assim, por que não disseram antes? Por que não fizeram esta sessão técnica antes? Evitaria uma série de problemas como os havido na noite de ontem. Evitaria, principalmente, o desgaste a que o prefeito ficou submetido frente à categoria dos municipais, que de resto já não o vê com bons olhos, por uma série de outras questões.

Evitaria o enfrentamento público dentro da Casa de Leis de dois desafetos históricos, que são Delomodarme e Salata. E, acima de tudo, não provocaria acirramento de ânimos, o que nunca é produtivo e positivo em lugares como a Casa de todos nós, o povo, onde devem imperar, sempre, o respeito, a ética e o decoro. Que ontem, todos ali estiveram no limite de quebrar.

PORQUE CONCON MENTE?
Primeiro por sofrer de “compulsão assessorística”. Depois, por suas relações oblíquas com o vereador Salata. Depois, ainda, por sua notória e pública desavença com o ex-vereador Delomodarme, com quem mantém pendenga judicial e nutre sentimentos pouco amigáveis. E a recíproca é verdadeira. O presidente da AFPMO disse que o prefeito Geninho (DEM) teria chamado “1/3 dos servidores de vagabundos”? Disse. Porque não seria mentira. Não com estas palavras, mas o prefeito teria se referido sim, a parcela dos municipais, de maneira pouco lisonjeira, recentemente.

Delomodarme disse, também, que ele, prefeito, “usou o dinheiro do Instituto de Previdência para comprar um imóvel por R$ 350 mil”? Disse. O imóvel foi comprado, de fato. E pelo preço citado. Mas, talvez não por ingerência direto do alcaide, mas com certeza com a sua anuência. Porque esta compra já foi tentada por diversas vezes na gestão passada, e não houve anuência do então prefeito, e a diretoria não se encorajou a fazê-la. Se o preço condiz com o imóvel, e se o imóvel condiz com as necessidades do Instituto ou é espaço exagerado, são outras questões que sequer foram levantadas ontem.

Quanto a estar “movimentando o dinheiro do Instituto em negociações bancárias”, pode ser exagero de Delomodarme. Mas houve, de fato, uma movimentação, ano passado, de R$ 2 milhões em recursos do Instituto que, ao que consta, teria tido a chancela do prefeito, talvez até sua ingerência direta. A diretoria, por sua vez, alega que tratou-se de uma movimentação regida, e exigida, até, por lei federal. Mas que houve a movimentação, isso houve. Aliás, em resposta, o líder Salata teve a oportunidade de dizer que todas as colocações de Delomodarme eram “mentirosas”, embora, ao que consta, sejam “mentirosas” em termos.

Ao que parece, inconformado com atitudes democráticas, Concon assim relatou a presença dos funcionários municipais nas galerias: “As galerias estavam lotadas de servidores que, inclusive, vaiaram o líder, enquanto aplaudiam vereadores da oposição que transformaram o tema em palanque eleitoral.” Puro viés situacionista ao retratar o que viu. E se caso os municipais tivessem aplaudido também os situacionistas? Estaria tudo bem? Por exemplo, aplaudiram, depois, Lelé, quando este se explicou e pediu desculpas. Concon não gostou dos vaias a Salata? Por quê?

E, para fechar, o ponto máximo. Diz Concon: “Os servidores que vaiaram pertencem à Associação dos Funcionários Públicos Municipais de Olímpia (AFPMO), cujo presidente, ex-vereador Antonio Delomodarme (Niquinha), ocupou a “Tribuna Livre” e, esquecendo que não tem mais imunidade parlamentar, fez até acusações sem provas (?).” Vamos nos ater somente ao princípio do parágrafo: “Pertencem à Associação dos Funcionários Públicos Municipais?”. Como assim? Funcionários públicos “pertencem” a alguém ou alguma entidade? Não tinha ninguém ali que “pertencesse” ao Sindicato da categoria? Ou ele, e só ele, conseguiu identicar um e outro, a ponto de saber que aqueles que vaiaram eram da AFPMO, e os do Sindicato ficaram comportados?

Para dizer o mínimo, aqui, vale aquele velho dilema do “copo meio cheio, copo meio vazio”, sem sombra de dúvidas.

Até.