Blog do Orlando Costa

Verba volant, scripta manent – ANO XVI

Mês: outubro 2010 (Página 3 de 3)

MENTIRAS SORRATEIRAS VERSUS PROPOSTA DE PAÍS

CANDIDATA DILMA
CANDIDATA DILMA

Amanhã, 3, é o dia do voto. A data representa, antes de tudo, um alívio. Primeiro porque vamos ficar livres de tanto barulho, de tanta correria, de tanta falsidade, correndo para lá e para cá, num ir e vir infinito. Segundo, porque marcará o fim da talvez mais sórdida campanha eleitoral de que se tenha notícia neste país. Aliás, esta campanha eleitoral pode ser tranquilamente classificada como um golpe que não vingou. Um golpe na instituição da democracia e, portanto, declaradamente contra a vontade popular. Mas, estas eleições podem significar outra coisa, também, só que extremamente positiva: significará o dia em que o povo decidirá por si. Em que fará uma espécie de “revolução silenciosa”, uma revolução pelo voto.

E é isso, seguramente, o que tem enfurecido certo segmento das elites. Hoje pela manhã conversava, no centro, com um expoente político de Olímpia, figura conhecedora dos meandros da coisa, eis que circulou, por muitos anos, entre as “altas esferas” da política paulista. E ele dizia que o cenário que está por emergir das urnas, politicamente falando, não é dos mais animadores, na sua visão de mundo. Mas, ao mesmo tempo, ele também não soube apontar a qual mundo pertence, nem se a alternativa, ou seja, uma hegemonia tucana, seria o mundo ideal.

Na base argumentando que “toda unanimidade é burra”, ou usando de uma colocação acertadíssima do cineasta tucanérrimo Arnaldo Jabor, algo como “a inteligência fere, a burrice conforta” (cito de cabeça), tal figura estaria a sinalizar que algo não irá bem no futuro, caso o que se está delineando no horizonte político do país e do Estado – aliás dos Estados-, se concretizar. Poderão vir “solavancos”, intranquilidades, desassossegos que poderão redundar num estado, talvez, de exceção. “Porque eles não vão poder governar”, disse mais ou menos asssim nosso interlocutor.

CANDIDATO JOSÉ SERRA

CANDIDATO JOSÉ SERRA

“Eles”, no caso, são aqueles candidatos a serem escolhidos legitimamente pelo povo, por meio do voto, que desta vez preferiu um seu, digamos, “igual”, ou pelo menos mais próximo, para lhes conferir poder político e administrativo. E isso aquele segmento das elites não aceita. De maneira alguma. Quando o presidente Lula disse, em um comício em Minas Gerais, que “a opinião pública somos nós”, correu a imprensa a usar desta frase com sentido dúbio. Tentaram atribuir a esta fala do presidente um conteúdo que de fato, ela não tinha. O “opinião pública somos nós” de Lula tem razão de ser. Em sentido lato, ali estava a expressão verdadeira do que significarão os resultados esperados destas eleições: será a eleição em que os “formadores de opinião” não tiveram a menor influência. Por mais que tivessem tentado.

Significa que será uma eleição em que o povo votará “apartado” daquilo que tais segmentos das elites julgariam mais apropriado para o país, para o país “delas”. Daí toda a fúria. Daí todo tipo de ataque. Daí as mentiras, as falsas acusações, que não se sustentavam por 24 horas, daí as tentativas de torcer fatos, “parir” boatos e “verdades”, sempre gestados em corredores ou belas salas iluminadas da “intelligentsia” oposicionista. Ou devo dizer “politburos” às avessas? Alguns hão de argumentar, e com razão, que a imprensa cumpria seu papel, algumas denúncias tinham fundamento etc.

Daqui responderemos que sim, a imprensa, em pequena fração, cumpria seu papel. Mas, numa fração incomensuravelmente maior, fingia cumpri-la. Atacou virulentamente o presidente Lula e sua candidata, violentou princípios da ética jornalística, derrapou na lama do pensamento extremado, todos, como bem salientou o presidente, fingindo neutralidade, imparcialidade que de fato não existiam. Tanto, que horas depois da crítica mais contundente feita por Lula, e não sem antes, claro, os grandes veículos partirem para o ataque frontal – quando duas centenas de “formadores de opinião” chegaram até a fazer um “manifesto” público – o Estadão joga na cara de seu leitor que tem candidato. E que ele é o Serra.

Assim, assinando embaixo toda crítica recebida não só do presidente, mas de uma legião, milhões de twitteiros e blogueiros que formaram, até inconscientemente, a coluna de resistência contra o que se convencionou chamar de “golpismo midiático”. Foram eles que, o tempo todo, cobravam vigilância eterna, buscavam indícios de “golpe” aqui e ali, sempre denunciando quando algo, na grande imprensa, saia do “prumo”. E até por meio de ironias, conseguiam fazer com que milhões de pessoas se mantivessem de olhos bem abertos. E faziam, também, com que tais veículos se “coçassem” – a Folha, por exemplo, sempre reiterando, até em editorial, que era imparcial, índicio claro da “sinucada”.

Foram, portanto, as redes sociais uma importante ferramenta a garantir a livre e democrática manifestação político-eleitoral das massas, sem o “ruído” indisfarçado de um pensamento de direita, concentrado em torno de uma proposta, não de Governo, mas de poder, que é o perpetuum mobile, o moto-perpétuo da oposição, hoje representada por figuras incrustadas em agremiações como DEM e PSDB, de resto um ajuntamento anódino sem amplitude de pensamento. Seu próprio carro-chefe, o candidato Serra, encarnando essa imagem, intelectualmente limitado que é.

Pois bem, aquele meu amigo lá de cima, não disse exatamente e em claras palavras o que pensava, mas a linha do seu pensamento era perfeitamente captável: o temor de um país governado, em síntese, por um projeto de Governo com viés popular. Daí, pensamento-elite, para derivar para uma república “bolivariana” (as elites adoram fazer esta comparação), basta romper a “tênue linha” que imaginariamente separaria a real democracia (que eles também não definem exatamente o que é) de um estado “niilista negativo”.

Mas, confrontado no contraditório, aquele amigo arrefeceu. Também é incógnita, pois. Seria trocar um sistema de virtual absolutismo por outro, só que, no caso, resvalando para um direitismo que, da mesma forma, político-ideologicamente não se saberia no que iria redundar. Pois toda a unanimidade não é burra? Então, o pensamento único é o quê? E não era exatamente esse o melhor dos mundos para o Governo FHC? A massa, as elites, a mídia, as instituições, as instâncias de poder, todos pensando de acordo com o “grande irmão”, como único caminho traçado para a redenção?

Portanto, neste momento, só resta aos homens de bem deste país uma coisa: respeitar solenemente nossa Carta Magna, a “Constituição-cidadã”, forjada no suor de figuras ímpares de nossa política, alguns já nem mais entre nós, como Ulysses Guimarães, Mário Covas, Miguel Arraes, Tancredo Neves, Leonel Brizola e tantos outros, que tinham àquela época um projeto de país, diga-se de passagem, parecido, se não igual, com o que está em pleno desenvolvimento agora.

Nesta lista poderia ser incluído também FHC. Mas hoje ele é apenas um arremedo do que foi no passado. Lá ele também tinha um projeto de país. Que depois se transformou num mero projeto de poder. E aí ele negou toda sua história. Como nega agora, com esta campanha sórdida a sua história, o PSDB.

Até.

DO OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA

Imprensa em Questão 
 
PAUTA & PARTIDARISMO
Liberdade de imprensa e a imprensa liberta

Por Sylvio Micelli em 28/9/2010
 
 
A chamada grande mídia está com medo. Vê, paulatinamente, ruir seus alicerces antiquados, nepotistas e reacionários. Prova disso é a capa da edição corrente de Veja, a mais conservadora delas. Com o título “A liberdade sob ataque” chega até a reproduzir artigos da Constituição Federal que só são cumpridos quando há o interesse de fazê-lo. Afinal de contas, que imprensa a revista acredita que querem calar? Esta, embolorada e viciada que está aí e da qual Veja faz parte ou a nova imprensa que nasceu com a liberdade dos blogues e das redes sociais?

Durante a faculdade (apenas para os diplomados, claro…), somos ensinados a crer que a prática do bom jornalismo passa, necessária e invariavelmente, pela isenção, pela ética e pela moral. Aprendemos que sempre devemos ouvir os dois ou mais lados da questão e que nossa missão é formar opiniões para salvaguardar o direito da sociedade em receber uma informação clara, pura, translúcida. Isso seria, ao menos em tese, bom para o cidadão e ótimo para o país.

Na prática, porém, como todos sabemos, a teoria é outra.

A revista Veja e os velhos jornalões – agora reduzidos a três (Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo) – insistem numa pseudo-liberdade de imprensa que eles não exercem. As notícias e opiniões sempre são dirigidas a interesses diversos que não são os mesmos da sociedade. Querem pautar a população com informações enviesadas que, sabidamente, tendem apenas a manter o establishment e nada oferecem de concreto para esta sociedade. Parece que não aprenderam as lições com a ascensão e queda de Collor, e tantos outros “pés pelas mãos” cometidos ao longo da história.

Politizam o que não é para politizar

Passei, recentemente, pela maior greve do funcionalismo público de São Paulo. A minha categoria – Judiciário estadual – paralisou as atividades por 127 dias. As notícias (poucas) que saíram na tal da grande mídia eram ácidas, críticas e quando nos ouviam já vinham com a pauta pronta, sequiosos pelas respostas que combinavam com o texto que necessitavam fazer. Registre-se, aqui, que houve uma ou outra exceção (até para justificar a regra).

Semana passada, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, com seu histórico auditório Vladimir Herzog, foi palco de um ato promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, entidade da qual sou membro do Conselho Consultivo (ainda que ausente por tantos compromissos). O ato, que reuniu quase mil pessoas, é prova irrefutável de que algo está errado com esta mídia em estado de obsolescência.

É óbvio, que a grande mídia não soube assimilar o golpe. Prefere um reducionismo tolo ao afirmar que o ato é político-partidário com infiltrações de diversas organizações sociais ou aquilo que a Veja acredita ser o “petismo”. E é justamente aí que as revistas e jornais anacrônicos erram. Politizam, partidariamente, o que não é para politizar. Defendem seus candidatos e interesses tratorando as lições do bom jornalismo.

Pois bem. Não sou petista. Nem mesmo sou alinhado a muitos dos dogmas do Partido dos Trabalhadores, em que pese reconhecer sua importância na política nacional. Meus candidatos, há mais de duas décadas, raramente são eleitos porque voto em pessoas, e não em partidos. Ou seja: nem de longe faço parte do “petismo” e, além de mim, há milhares de colegas que analisam a mídia sob uma nova ótica.

Quem viver, verá

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