É claro que a primeira pergunta que vem à cabeça do incauto quando olha a lista de votação para deputados federais em Olímpia, e vê o “caminhão” de votos despejados no candidato eleito Rodrigo Garcia é: “Quanto custou?”. Mas, para muito além de buscar um quantum financeiro para a escalada na preferência do eleitorado olimpiense pelo nome de Garcia, e também bem longe de dimensionar o peso da campanha propriamente dita, vale, neste momento, fazer uma análise político eleitoral do feito.

E, de antemão, o quadro mostra que a cidade está diante de um grande “cacique político”, daqueles que eram em muitos no passado, e que hoje minguam por aí, enquanto por aqui nem existiam mais.

É claro que a campanha de Rodrigo Garcia deve ter custado os “olhos da cara”. Há quem afirme nunca ter visto tamanho maior de campanha que não seja para prefeito da cidade. A imagem de Garcia foi onipresente por todos os cantos. Gente, havia à farta correndo para cima e para baixo. Alguns até se gabando de estarem faturando alto. Há fortes indícios, também, de uso da máquina em favor do candidato. Assessores, secretários, apaniguados, vereadores e quejandos, todos atenderam, de uma forma ou de outra, ao chamado do prefeito.

“Alianças” foram feitas da forma mais “democrática” já vista – Garcia “dobrou” com quase todos, se não com todos os candidatos a estaduais que estavam no arco de influência do alcaide – até Uebe Rezeck, a quem seus “bate-paus” cuidaram de espalhar críticas por todos os meios. E a promessa se cumpriu. Promessa esta nunca ouvida por este blog nas palavras do prefeito, mas que circulava, de boca em boca, nos cantos, nas esquinas. Todo mundo dizia que ele havia prometido dar ao deputado 10 mil votos.

Uns acreditavam, outros duvidavam, até que as urnas foram abertas. De lá emergiram um volume de votos 136% maior que aquele apurado na eleição anterior, quando Rodrigo era candidato a estadual – de 4.683 votos, ou 18,9%, pulou para 11.064 votos, ou 40,62% dos votos válidos em Olímpia. Aliás, diga-se de passagem, muito mais votos do que o próprio Geninho teve quando se elegeu prefeito – 9.894. Dá para crer que o então candidato gastou bem menos na sua campanha, que agora. Eleição municipal tem outra característica.

É sabido, também, que Geninho usou de uma certa, digamos, “prestidigitação” verbal junto ao eleitorado. “Casou” o término ou a continuidade de algumas obras com a eleição de Garcia. Se ele não chegar lá, pior que está ficará, pode ter argumentado o prefeito. E muitos ouviram esta conversa da boca de eleitores. Mas, também não dá para dissociar deste resultado, um certo prestígio político-administrativo que Geninho goza perante a opinião pública, de tal sorte que os revezes dos últimos meses não foram suficientes para contaminar a campanha.

Talvez o estilo “jamanta desgovernada” adotado por ele frente a tudo que tem feito até agora no Governo Municipal também tenha contribuído: muita velocidade, muito barulho, e nenhuma certeza do que virá pela frente. Assim, pega um cidadão atordoado, sem condições de refletir muito bem, sem noção da lógica da coisa, que acaba sendo “engolfinhado” e acha estar fazendo a melhor coisa. E Geninho sabe que este é o método, acoplado a um bom discurso – verossímel ou nem tanto, pouco importa. O resultado final é o que importa. E o resultado alcançado, foi aquele buscado. Por fins que justificaram todos os meios, no entanto? O tempo responderá.

De uma forma ou de outra, há que se ter em mente uma verdade: o prefeito emerge destas eleições como um grande puxador de votos, talvez o maior eleitor olimpiense depois de Marreta. O caboclismo político inato do ex-prefeito já falecido, porém, se manifesta no atual prefeito, por vezes, como arma de sedução eleitoral – alguém certa vez já disse que Geninho é um “conquistador de homens, enquanto gênero, e no sentido político-eleitoral, ao que acrescentaria, ser ele, também, um “animal político”, para o bem e para o mal. Até porque, em política nem tudo são flores.

Não há como negar que é Geninho, hoje, a maior força-una política da cidade. E nisso está sua maior virtude e seu maior defeito. Por que se por um lado tem a força do convencimento do voto, por outro deixa sempre irrequietos e “soslaiados” seus parceiros. É o dono dos votos? Tudo indica que sim. Mas, mesmo com este cacife todo, é ainda um figura frágil politicamente, a depender de uma estrutura partidária que não lhe pertence. E que além de não lhe pertencer, ainda não tem nutrido muita simpatia pelo seu modus operandi no trato com a coisa pública. Nisso se parece ainda mais com Marreta.

Mas, tal semelhança esvai quando se procura em Geninho o mesmo desprendimento e a verdade que havia no ex-prefeito. Que fazia o que fazia por indiscutível gana de ver a coisa pronta, de dormir com sua cidade dando passos largos de progresso, mas de forma nada cabotina, como agora. Mas, queiram ou não os desafetos, “yes, já temos ‘cacique'”. Que para não ser caricatura de si mesmo, precisa repensar atitudes porque, por enquanto, tem se comportado como uma espécie de “índio do ano 2000”*: de “chinelos/pareô/ cocar/com gorro de pierrô pra despistar/arco e flecha/só pra embaralhar”.

* (Ouvir João Bosco – “Dois mil e Indio”).

Até.