Amigos do blog, acreditava que já estava terminado o período em que teria que escrever coisas deste naipe, mas vejo que me enganei redondamente. E, prova disso, é que cá estou eu, batucando estas letras para falar de mais um caso de, digamos, “mudança de lado”. Muitos vão dizer “áh, mas isso eram favas contadas!”. Eu vou replicar “calma lá, também não é assim!”. O Guto Zanette até que começou bem, vinha sendo uma grata surpresa na Casa de Leis. Uma futura liderança jovem, que a cidade reclama há tempos.

Eleito na “bacia das almas”, Zanette integrava a chamada “coalizão” de veredores que no primeiro momento fizeram a Mesa da Câmara mediante acordo de aqueles que fora dela ficaram, mais outros dois que nela estavam, assumiriam, com os votos do grupo dos seis – Hilário, Magalhães, Guto, Toto, Guegué e Zé Elias. Assim, Magalhães ocuparia a presidência, Zé Elias a vice, Guto a 1ª secretaria e Toto a 2ª. Guegué, por dever de acordo ficaria em plenário. E assim estava escrito. Até que os “tentáculos” do Executivo perspassaram pela Casa de Leis e entrelaçaram Elias e Toto.

Lá estava a “coalizão” reduzida a quatro vereadores. Mas, ainda assim, zelava-se pela unidade dos dois “desgarrados” para até o momento em que tivessem que cumprir o combinado no “fio do bigode”. Nem precisou de documento assinado, como da vez passada, em 2005, na formação daquela Mesa, documento este que foi rasgado depois pela falta de hombridade e palavra de uns e outros. E assim seguiu-se 2009, com o prefeito vendo-se em palpos de aranha com a Câmara, pronta a rejeitar qualquer proposta mais, digamos, afoita do Executivo, e tendo que fazer sempre um verdadeiro “áh, muleque!”, para não ter projetos rejeitados.

Mas, como todo Executivo que se preza, este não poderia ser diferente – justo esse? E conversa vai, conversa vem, dois lá se foram para o “batismo” na pia do 9 de Julho mas, ainda assim, na “coalizão” havia garantias de que na hora da Mesa, tudo seria conforme combinado. Não se sabe por quais razões ultrasecretas Magalhães, o prócer do grupo, mantinha toda convicção do mundo de que “o que é combinado não é caro”, como se diz por aí. E mantinha esta certeza, esta segurança absoluta de que nada mudaria em relação a este combinado.

Mas, o tempo, como senhor da razão que é, acabou por lhe mostrar que não é bem assim. Que em política – embora toda sua experiência – não é sempre assim que as coisas funcionam. Há revezes. E como de fato, logo em seguida os boatos foram surgindo, se avolumando, até que veio a informação: a Mesa de 2011 está formada. A peça que faltava se encaixou agora: Guto Zanette. Claro que em princípio ele negou, mas suas andanças e posturas dali em diante o denunciaram. Malgrado suas promessas de que não, não havia nenhum alinhamento político mas, sim, uma aproximação de conveniência visando facilitar seu trabalho enquanto edil. Mas, já estava difícil de acreditar.

E a confirmação para todas as suspeitas veio na sessão ordinária de ontem à noite, com um simples voto do vereador, contra a emenda modificativa 6, proposta pelo presidente da Casa e seu parceiro político de primeira hora, Hilário Ruiz (PT). A emenda em questão alterava a Alínea “A” do artigo 32 do projeto de Lei que trata das Diretrizes Orçamentárias para o ano que vem. Ou seja, reduzia de 50% para 30% da despesa fixada o limite para abertura de créditos suplementares pelo prefeito Geninho (DEM). De resto, uma medida totalmente cabível, e que já fora tentada pelo próprio Geninho, quando vereador, em 2006 – ele queria uma redução para 10%.

A emenda foi derrubada por sete votos a dois, contando o de Zanette. É bem verdade que os peemedebistas Toto e Zé Elias também votaram contra o colega da Mesa, mas estes já vinham nesta “toada” há tempos e não foi surpresa nenhuma. Surpresa foi Zanette. E tal voto – é isso que choca mais – é frontalmente contrário à postura que este vereador vinha mantendo até então na Câmara. Como se sabe, ele não negava votos ao Executivo quando o projeto era de interesse coletivo, e não o dava em projetos “suspeitos” ou que não esplicitavam bem suas reais intenções e direcionamento. Mas, agora, parece, vai votar por trás de um biombo translúcido.

E antes que os “cavaleiros da boa causa” nos peguem de pau, vamos esclarecendo que o vereador é livre para tomar a decisão que quiser, votar da maneira que lhe for mais conveniente. A ele e a todos é dado o sagrado direito de mudar de opinião, de rever suas convicções e decidir o que é melhor para si. Mas, no caso do político, tal mudança, tal “revisão” de convicções não podem ser regadas a interesses de terceiros ou, mais que isso, jamais um político da envergadura deste a que nos referimos poderia se submeter a ser “moeda de troca” como estão a afirmar que fora.

Está certo que ele não é dono do partido, não é dono sequer dos seus votos. Mas é dono de sua palavra, do seu caráter, das suas convicções. Ainda que estas sejam sempre passíveis de mudanças.

Até.