Amigos do blog, acabo de receber a informação de que, para o ano que vem, no quesito Estado a ser homenageado, há grandes chances de ser o Rio Grande do Norte. Alguém há de perguntar por que ele. Também não saberia responder. Provavelmente alguém da comissão organizadora da festa poderá – ou melhor, terá esta resposta. Que me lembre, o RN tinha apenas um representante nesta edição da festa, que foi o Grupo Folclórico (?) “Pastoril Dona Joaquina”, de São Gonçalo do Amarante, que, salvo equívoco, representa a forma pagã da manifestação.
E mais: caso seja mesmo o RN o escolhido, será este grupo que ilustrará o cartaz, o anuário, a programação, as peças de divulgação, devendo trazer para cá seu artesanato, sua culinária, etc. O que achamos, sinceramente, muita coisa para um grupo só. Se vai ser homenageado um Estado, que tal se fazer pesquisas neste Estado para apurar quais outras manifestações ele tem, ou mesmo, quantos outros grupos pastoris existem por lá, para que o público tenha diversidade de apresentações de um mesmo gênero ou outras diferentes, de um mesmo Estado?
Até porque é possível encontrar essa dança da cultura popular nos municípios de Natal (Praia de Ponta Negra e Bairro do Bom Pastor), São Gonçalo do Amarante, Ceará Mirim, Pedro Velho, Nísia Floresta, Tibau do Sul, São Paulo do Potengi e em Parnamirim (Praia de Pirangi). Em São Gonçalo do Amarante, por exemplo, além do “Pastoril Dona Joaquina”, há os pastoris “Estrela de Belém”, “Estrela Guia” e “Estrela do Norte” em sua vertente religiosa. Então não seria o caso de dar a conhecer todos estes representantes daquela cidade? Percebam que estão em uma só cidade. Nem precisaria revirar o Estado.
Achamos que pode ser um privilégio talvez nem merecido a um grupo só, a um tipo único de manifestação (pagã), quando existem os formatos religioso e aqueles dançados por jovens e velhos num mesmo momento, e grupos só dançado por velhos. Não seria interessante conhecer? E quais outras manifestações o RN terá? Centrar o foco em um só grupo, e ainda um grupo que veio a Olímpia, salvo engano, pela segunda vez agora nestes 46 anos de festa? Vai se seguir o exemplo do Paraná, Estado homenageado nesta edição da festa, mas de onde veio apenas um grupo, o Fogança, que a bem da verdade nunca foi uma unanimidade entre o público? E reparem que este mesmo fenômeno que se dá em relação ao “Dona Joaquina”.
Além disso, trata-se de um grupo com apenas seis anos de existência. Não há ausência de tradição nele? E pelas características, não pode ser autêntico, raiz, porque passou por várias fases ao longo da existência primeira e se ramificou diversamente. Não manteve a linha da existência, teve interrupção, pessoas diferentes criando grupos diferentes ao longo de sua história, de resto bastante truncada, pelo que se pode apurar. Se não, vejamos:
Seus fundadores, os irmãos Séphora Bezerra, Rute Maghi e Rico Bezerra herdaram (não o grupo, mas a história) da avó paterna Jéssica Débora, organizadora das lapinhas e pastoris religiosos nas décadas de 20 e 30, nos ciclos natalinos apresentados na Igreja Matriz daquela cidade; já a mãe, Damiana, também organizava para os festejos de fim de ano o “Pastoril Religioso” da Escola Estadual “Dr. Otaviano”, no centro da cidade, nos anos de 1979 a 1983; além do tio Zuca, por parte de sua mãe, criador do “Pastoril do Zuca”, o Pastoril Profano de contra-dança mais requisitado da Cidade nos anos 50 e 60. Perceberam as “quebras” de sequência, e as difentes razões e motivações para se restabelecer o grupo?
E saibam mais: O grupo atual foi fundado em 22 de fevereiro de 2004, ativado para o resgate da “brincadeira” junto aos jovens e crianças da cidade, contando com filhas e netas de antigas brincantes.
Não se quer aqui desqualificar o grupo, nem deslegitimar a pré-escolha feita pela Comissão. Apenas apela-se para que sejam dados os devidos espaços a outros grupo do gênero daquela cidade, e até mesmo a outras manifestações que existam pelo RN adentro – Estado rico em Autos e Danças populares, tem manifestações como o Côco, o Bumba-meu-Boi, a Embolada, os Presépios, os Fandangos, por exemplo. Sim, dá para ser uma bela homenagem. Dá para extrair do RN um belíssimo e bem diversificado espetáculo.
O que não pode, e deve ser evitado, é o privilégio a um representante apenas, de um Estado tão rico, talvez embasado apenas no gosto pessoal ou na profusão de amizades criadas com seus componentes. É só isso.
Até.
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