Isso é sincero, vem da alma, é folclore!

Isso é sincero, vem da alma, é folclore!

Amigos do blog, foi-se mais um Festival de Folclore de Olímpia. Ficou, como sempre fica, a saudade. Ressoando na mente e na alma, ainda, os sons, as canções, as danças, as cores, os ritmos. Canções que, em alguns momentos, soam como lamentos. Mas, felizes ou tristes, vivemos mais um Fefol, o do 46º ano. Um evento que este ano, começou sob os olhares de desconfiança da opinião pública, que se perguntava, a todo instante, qual seria a real intenção dos personagens por trás de sua realização.

Tapar o sol com a peneira agora e usar os momentos finais da festa para se afirmarem como sinceros interessados na sua realização, e até fazer com que as mídias comprometidas e à soldo do Erário inflem números e se jactem com este ou aquele acontecimento de nada valerá se o que foi feito, e o que se diz pretender fazer a partir do ano que vem – ou melhor, a partir de já, como enfatizou Tom Gomes no palanque, ontem – se tudo não estiver na alma, na mente e no coração.

Houve, sim, nos dois ou três dias finais da festa uma ligeira mudança de postura e determinação do poder público em relação à esta edição da festa. Mas o que houve foi talvez uma resposta às muitas desconfianças do povo que já manifestava a certeza de que a festa maior de Olímpia, em favor de outras menos importantes do ponto de vista do saber humano, estivesse agonizando. E assim pensou a massa, não sem razão. Havia um clima de medo no ar. Talvez por isso os discursos no final mudaram de rumo, passaram a ser no sentido de reafirmar o compromisso da cidade, de seu povo e, principalmente, de suas autoridades políticas no tocante à festa.

Isso trouxe um novo ânimo aos participantes, àqueles que gostam do Fefol, àqueles que vêem nele fonte de cultura e conhecimento, àqueles que têm no Fefol os seus momentos de recordações, de feliz melancolia, àqueles que bebem a cada agosto na fonte do saber. E até mesmo àqueles que teimosamente, todos os anos se voluntariza, mesmo sob enormes sacrifícios pessoais e dos seus ente-queridos. Foi essa afirmativa – que de resto espera-se que seja inteiramente verdadeira – que trouxe o alento, que despertou as almas contidas até então.

No mais, o que se vier falar e escrever sobre a festa, nos agouros exageradamente otimistas terá sido por encomenda. Não há como fazer estimativa de público, mas ele foi menor que o do ano passado. Que por sua vez já havia sido vertiginosamente menor que o de 2008, e isso é incontestável. Malgrado os esforços dos meios e mensagens oficiais. O que se precisa engolir, urgentemente, é a empáfia de quem se acha dono das verdades porque escudeiros do poder.

Mas o cerne da questão é: o Fefol quer ser grande, ou quer ser essencial? Uma coisa não estaria interligada à outra? Porque ser grande não implicaria, a nosso ver, perder a assência. E, ao contrário, ser essencial não implicaria em ser para poucos. Porque é uma tremenda bobagem esta idéia surgida e difundida por bobocas de que Sant´anna não queria público. Ora, como não? Alguém aí estaria querendo dizer que o idealizar do Fefol era egocêntrico a ponto de fazer uma festa deste porte só para se auto-regozijar com seus grupos “de negrões fedidos e suados” como assim se referiu aos grupos folclóricos alguém ligado à organização desta festa?

Se o objetivo era difundir a cultura popular, do povo e para o povo, em nome de quem ela deve sempre ser realizada, embora a contragosto de muitos em seu entorno, por que, então, não quereria Sant´anna o público? E para quê, então, um facilitador para o ingresso destas pessoas no local onde ele é sempre realizado? E antes que alguém diga que se cobrar ninguém vai, direi que para tanto bastaria acrescentar ao evento outros elementos que atraíssem a juventude vazia ou os comuns que não gostam de pensar, raciocinar e não ter que entender coisa alguma. Temos visto muitos exemplos por aí. E até por aqui.

Este facilitador é para permitir que o povo esteja sempre muito próximo da festa que é para ele, feita em seu nome, para mostrar-lhe suas próprias raízes, como  a dizer: “Foi assim que tudo começou. Essa é a tua identidade. Identifique-se com ela, preserve-a, como forma de garantir tua independência e dos teus próximos. Aí está tua origem, teu passado, a ser cultivado no presente para lhe garantir um futuro”. E qual o “sacrifício” exigido? O de apenas dar-se valor a estas coisas que parecem tão insignificantes, tão sem sentido, mas que têm um valor imaterial incomensurável. Que por isso mesmo não se pode medir em volume, em tamanho, nem muito menos em resultados financeiros (embora muitos alimentassem tal expectativa).

Assim, é preciso colocar-se na mesa de discussões o que se quer para os festivais futuros: a grandeza ou a essência. Se as duas, discutir-se, então, como se poderá fazer a junção sem que uma vertente interfira na outra. Se vai se optar por uma festa onde o valor maior será a vertente purista, aí também carece de melhores estudos e de se pesar sua viabilidade. Porque se o próprio Sant´anna iniciou tudo no formato como está, não importando se foi por conveniências dos momentos pelos quais o festival passou (há gente que até estabelece relações do ápice da festa com a ditadura militar e por aí afora) ou não.

Sabem aqueles que estiveram próximos do professor que os parafolclóricos eram permitidos e até incentivados por ele não como forma simplesmente de trazer beleza para as noites de palanque, mas principalmente como forma de atrair as “elites” incrustradas de preconceitos para a seara do festival. Para que pudessem também, ainda que a contragosto, ver as manifestações verdadeiras, cheias de fé, de onde aquelas cores, aquela dança bonita e cheia de risos, caras e bocas, foram tiradas. Enfim, chamar à razão grupos de pessoas que se absteem do conhecimento em função de uma sociedade de almas inertes, de pensamentos ocos.

Só é preciso que os poderosos de plantão da cidade entendam que o Festival do Folclore tem uma função histórico-social na cidade, uma responsabilidade cultural que não se tem como medir em relação ao país e seu povo.

* Como comentava um espectador com sua interlocutora durante o desfile de encerramento do Fefol, ontem, conversa que ouvi por estar nas imediações em busca de ângulos fotográficos: “O problema maior desta festa é a falta de compreensão das pessoas”. Acho que ele não era morador de Olímpia. E pelo sotaque vinha de longe. E o que disse faz o maior sentido: só se pode amar e respeitar aquilo que se compreende. Se não, a alma não reage.

Até.