Blog do Orlando Costa

Verba volant, scripta manent – ANO XVI

Mês: agosto 2009 (Página 2 de 2)

A FONTE VAI SECAR?

Amigos do blog, próximos e distantes. O momento é de consternação. O Departamento Nacional de Produção Mineral-DNPM, órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia, acabou de lacrar, na tarde de ontem, os dois poços profundos que abastecem de água quente o clube Thermas dos Laranjais.

A decisão pegou a todos de surpresa. Quero crer que até mesmo o presidente Benito Benatti. Mas, no caso dele, naturalmente deve ter ficado surpreso com a lacração, porque não é crível que, enquanto presidente e principal mantenedor do clube, não soubesse dos problemas que a gerou.

O chefe do departamento em São Paulo, Enzo Luís Nico Júnior, disse que o clube não possui licença para a extração da água mineral. “Eles não têm sequer o processo no DNPM. Esse é um bem da União e o bem da União só com autorização da União. Vai ficar fechado até eles regularizarem o processo de extração mineral”, disse.

As perguntas que ficam são: Como assim, não têm licença para extrair a água? Como assim, não têm processo na instituição? E como se pode admitir que responsáveis pelo gerenciamento de um clube destas proporções não saibam que bem da União só se pode usufruir com autorização da União?

Sem os dois poços de água quente, o clube fica impedido de abastecer seu parque aquático com cerca de 180 mil litros de água por hora. Os dois que ficaram abertos, semi-artesianos, não são suficientes para atender a demanda do parque aquático. E então, como ficamos?

Se o presidente sabia de tudo isso e das inevitáveis consequências, e mesmo assim deixou a coisa seguir em frente sem se preocupar em legalizar a situação, foi omisso e negligente. Se não sabia, nem sua enorme equipe de assessores ‘técnicos’ sabia, então, que esta assessoria ‘pegue o boné’ e desapareça no horizonte.

Porque não mostrou competência. O problema, que todos saibam, não é só de ordem legal. Agora é também de ordem moral. Porque um empreendimento deste porte, quiçá um dos três maiores e melhores da América Latina, não pode pretender existir ao arrepio da lei, à margem da legalidade.

Como fica a imagem perante os turistas, perante aos organismos envolvidos com o setor em todo país? Como fica a imagem da cidade, sempre tão festejada quando o assunto é Thermas dos Laranjais, e que apostou todas as suas economias incentivada pelo retorno líquido e certo que as águas do clube proporcionam?

Pior, o DNPM disse que não há prazo para a concessão da licença. “Nunca é de um dia para o outro. Isso com certeza. Pode levar anos”, afirmou Nico Júnior, à reportagerm do ‘Diário da Região’, de Rio Preto. Um dos poços foi perfurado pela Petrobras e hoje pertence à Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Esse poço foi perfurado no início da década de 50 pela Petrobrás na esperança de encontrar petróleo(embora insistam que tenha sido perfurado no início da década de 80, na fase Paulipetro, lembram? Mas, estão errados). Como nada foi encontrado, o poço foi fechado e há vinte anos atrás foi reaproveitado.

Além do poço da Petrobras, o clube perfurou outro por conta própria, em 2003, salvo engano. Só que a perfuração foi com autorização estadual, mexendo num bem da União. “Foi feito tudo errado”, disse Nico Júnior. E por que a União só entrou no caso agora? Porque “só agora se soube, se concluiu o processo.”, responde Júnior.

Muito bem, não foi só Olímpia que entrou na lista negra da entidade. Outras cidades também tiveram o mesmo destino. O que joga por terra a tentativa ridícula de botar a culpa pelo acontecido no grupo de oposição que pretende disputar as eleições ano que vem, e mesmo na oposição política ao prefeito Geninho (DEM).

(Explica-se: Benito Benatti emprestou seu nome e sua voz à campanha do prefeito, daí a ilação).

Mas, seria uma solução simplista demais diante da gravidade do problema, não acham? Uma estéril tentativa de inversão de responsabilidades, não mais que isso. E leiam isso, amigos: “Eles têm de abrir processo agora. É um trâmite como qualquer mineração de água mineral, termal ou radioativa na fonte.”

Pergunta: Pelas vias normais, quanto tempo levará isso? Logicamente que o presidente e seu amigo prefeito não dormem no ponto e já estão correndo atrás da solução. Conseguirão uma saída política, um ‘jeitinho brasileiro’?

E caso não se consiga reverter a situação na Justiça, ou só por meio da legalização nós, que primamos tanto pela decência, pela moral e legalidade das coisas, vamos ter que engolir isso. Porque há um universo de pessoas e empreendimentos que dependem da plena existência do clube na cidade.

Porque se aqueles que tinham o dever de bem cuidar do clube não o fizeram condignamente, amparados na lei plena, que todos nós os mantenhamos agora no ‘índex’ de pessoas não confiáveis, manchadas pela sombra do desvio de conduta. Mas, torçamos para que tudo se resolva. O mais rápido possível. E da maneira possível.

E pensem nisso: Acaba sendo até melhor que o problema tenha ocorrido por ‘segundas intenções’, embora moralmente ruim, porque saber depois que tudo aconteceu, tudo chegou a esse ponto, por puro desconhecimento, incompetência de todos os envolvidos na administração do clube, será muito, moralmente muito pior.

‘CATOLIZAR’, ‘REVELAR’ OU REINVENTAR, SÃO OS DILEMAS DO NOSSO FESTIVAL DE FOLCLORE

Amigos do blog, começou o Festival de Folclore aqui em Olímpia. Ainda não dá para fazer um julgamento do todo, já que ontem à noite tivemos apenas a cerimônia de abertura e apresentação de violas de ponteio. Áh, teve também a chegada da ‘mãe peregrina’, como é conhecida N.S.Aparecida.

Mas, vamos por partes. Meu temor de que ao invés de se fazer um resgate das raízes do Festival, estariam, isto sim, reiventando a festa parece não estar muito longe de setornar realidade. Pelo menos no âmbito da abertura e nas coisas outras vistas no Recinto, isso fica mais ou menos nítido. Depois voltamos a este ponto.

A coreografia de apresentação do evento foi sem novidades. Nada que não se tenha visto antes. Aliás, achei até repetitivo, discursivo, muito longo e as danças, muito extensas. Os textos já haviam sido lidos antes, em outras aberturas, pelo menos em grande parte.

E fazer mesclagem de ritmos e manifestações também não é novo. Já aconteceu em outras edições pretéritas do evento. Em síntese, achei fraquíssima a coreografia, de efeito simplório e até um tanto amadora, modorrenta.

No palco, dois apresentadores totalmente perdidos, sem textos e imaginação, o tempo todo lendo relação de patrocinadores. Errando nomes, denominações, funções de pessoas, enfim, parece terem caído ali de paraquedas, naquele momento. Um horror.

A impressão que ficou é a de que eles, terminada a cerimônia, pegariam a nave espacial e voltariam para o planeta de onde vieram, tamanho o descompasso entre o estar e o a fazer ali. Vieram os discursos, todos babões, evidenciando a figura política do prefeito, quando o foco das atenções, alí, deveria ser outro. É por isso que são importantes os ‘baba-ovos’.

Já o prefeito, no seu discurso, para justificar o fato de não trazer de volta a brincadeira do Curupira (quando entrega a chave da cidade ao protetor das matas, que passa a ‘governá-la’ durante os dias de festa), saiu-se com essa: “Não é possível entregar a chave ao Curupira, porque, desde o dia 1º de janeiro, ela já foi entregue a Jesus Cristo”. Argh! Que pérola!

E que desculpa mais esfarrapada. Além de uma analogia infame (chega a ser pior que a comparação feita entre Festival de Folclore e futebol, igualando-os na concepção popular. Outro argh!). Se a proposta é resgatar as raízes do Festival, por que, então, não trazer a brincadeira de volta? Alguém pode explicar?

(E um detalhe: após a fala do prefeito, imediatamente depois do “obrigado”, foram feitos dois disparos de fogos de artíficio que assustou o público. Por que será? Terá o setor de ‘inteligência’ do Governo detectado algo que nós, mortais, não detectamos? Segundo detalhe: o prefeito andava com seguranças pelo recinto, algo nunca visto na história da festa. Terceiro e último detalhe: lembram do camarote das ‘autoridades’? Pois é, ficou vazio, e o povo excedente, ficou de pé! Arre!)

Bom, aí é chegada a hora da ‘Mãe Peregrina’, N.S.Aparecida, entrar em cena. Um momento de ecumenismo forçado. Na verdade, nem sei o que o mestre Sant´anna acharia disso. Houve fato folclórico nesta cerimônia? Só o mestre podia dizer se sim ou se não.

De minha parte, ficou a impressão de que ali estava se processando uma busca pela ‘catolização’ (‘catequização’?) da festa. E pelos conceitos imprimidos a ela pelo mestre José, sempre tive a impressão de que o evento primava por uma espécie de laicismo no seu contexto geral.

Era um momento de congregação de todas as manifestações religiosas, de cultos e até pagãs. A ‘catolização’ de um evento deste porte, portanto, tende a excluir certos segmentos. O perigo é grande, portanto, de se deixar perder o objetivo primeiro da festa. Trocar a ‘democracia’ da fé pelo teocracia da crença.

Bem, voltemos agora ao pretenso resgate do festival. Fico temeroso, amigos, com esta tendência, que não foi explicitada na primeira noite da festa. E quero crer que privilegiar grupos da terra e da região não teve outro significado que não redução de custos. Nada contra, pelo contrário, assim começou a caminhar a nossa festa maior.

Nada mais justo que eles estarem presentes em grande escala, como aliás deveria ter sido sempre. Mas, Estados importantes – em número de sete – foram cortados. O ‘Cordão de Bichos de Tatuí’, que faz parte da infância de toda uma geração, por exemplo, foi cortado. Redução de custos.

É preciso ficar claro que há uma diferença enorme entre o ‘Revelando São Paulo’, da Ong Abaçai Cultura e Arte, com o Festival do Folclore de Olímpia. O Fefol é muito, muito maior e mais importante. Em todos os seus aspectos. Aqui não há nada a ser revelado. Pelo contrário, nosso Festival revela-se.

Então, há que se tomar muito cuidado para não se romper a tênue linha que separa a proposta de resgate com a intenção de se reinventar o que já existe por sí só. E é grande por sua significância. Não há de ser apequenado de forma alguma.

QUEM TEM MEDO DO (MITO) CURUPIRA?

Amigos do blog, ledo e triste engano deste pobre escriba. Imaginei que, por conta da proposta do ‘resgate’ do Festival do Folclore em Olímpia – seja lá o que isso vai implicar no seu todo, ao final -, a partir desta 45ª edição o mito Curupira voltaria à abertura e encerramento oficiais do evento.
Ele, que é o símbolo máximo da festa na concepção de seu principal idealizador e realizador, folclorista José Sant´anna.
Ledo e triste engano, repito. A cerimônia na qual o prefeito entrega simbolicamente a chave da cidade ao mito, e depois a recebe na noite final da festa, continua banida, situação que dura desde 2002.
E agora, pelo que me consta e pude apurar, a comissão organizadora não a trará de volta, para “não melindrar ninguém”. Apesar da proposta do ‘resgate’ das raízes da festa.
Nesta cerimônia, o Curupira era representado sempre por um aluno da rede estadual ou municipal de Ensino vestido à caráter: cabelos de fogo, roupas imitando a pele, com os pés para trás, e a lança.
E havia sempre um bonito discurso de ambos, o prefeito lhe cobrando ‘um bom governo’ quando da entrega da chave, e depois o mito prometendo ‘dar conta do recado’, etc.
Simbolicamente, a partir daí o prefeito deixava que o Curupira “governasse” o município ao longo dos dias do Fefol. Depois o mito lhe devolvia a chave, “voltando” para as matas.
Simples assim, singelo, tocante… Mas, aí apareceram os evangélicos. E o Cururpira começou a ter problemas. Sérios problemas.
Recordo-me que ainda em início a administração do então prefeito José Carlos Moreira (1993/1996), o fuzuê foi grande. Havia vereador evangélico na Câmara.
A briga foi feia porque, Sant´anna vivo, jamais permitiria que aquilo acontecesse. Como assim? Acabar com a cemimônia? Deixar o Curupira na mata, ele, o ícone do Festival? Nem pensar!, esbravejava o mestre José.
E assim foi, de festa em festa, de prefeito em prefeito, até que o idealizador e principal mantenedor do Fefol se foi. E os evangélicos, enfim, venceram!
Passado um tempo ele, que tinha uma pequenina estátua nos fundos da arena do recinto (do tamanho de um anão de jardim), desapareceu. Ficou confinado aos fundos do palco, muitas vezes, propositalmente escondido.
Os evangélicos e aqueles que se julgam como tal acham que o mito, por ter os pés para trás, “tem parte com o diabo”, e não traria boas venturas para a cidade, enquanto estivesse no comando dela.
Mas, vejam bem, esse pessoal é aquele mesmo que não cultua imagens de santos, não venera a imagem da cruz etc., dizendo ser tudo “coisa do homem” e, portanto, sem nenhum valor cristão-religioso.
Seriam “pedaços de gesso”, “pedaços de madeira”, ou apenas desenhos. O que vale é a Biblia, e o que está contido nela: a palavra de Deus.
Pois bem, se eles não acreditam e não dão o menor valor simbólico ou de fé àquilo tudo, porque então se preocupar com o Curupira, uma figura lendária, simples fruto da imaginação popular?
Os responsáveis por manter a linha-mestra traçada pelo folclorista José Sant´anna em relação à festa maior de Olímpia, não deviam nunca ter sucumbido aos argumentos pífios de uma parcela da sociedade que não respeita manifestações outras e extrapola em suas pretensões totalitárias.
Porque Fefol-raiz sem a cerimônia do Curupira, me perdoem os organizadores, é puro discurso. O que se espera nos dias que vão correr, é que realmente toda a proposta em torno desta 45ª edição da festa não seja mero rabisco em papéis.
Porque uma coisa é resgatar uma tradição. Outra, é querer reinventar uma tradição. Depois do Curupira, temos que ficar de olho!
E PARA QUE NINGUÉM FIQUE MORRENDO DE MEDO PORQUE OS EVANGÉLICOS DISSERAM
O QUE DISSERAM, REPRODUZO ABAIXO A LENDA DO CURUPIRA, PARA QUEM AINDA NÃO CONHECE:
De acordo com a lenda, contada principalmente no interior do Brasil, o Curupira habita as matas brasileiras. De estatura baixa, possui cabelos avermelhados (cor de fogo) e seus pés são voltados para trás.
A função do curupira é proteger as árvores, plantas e animais das florestas. Seus alvos principais são os caçadores, lenhadores e pessoas que destroem as matas de forma predatória.
Para assustar os caçadores e lenhadores, o Curupira emite sons e assovios agudos. Outra tática usada é a criação de imagens ilusórias e assustadoras para espantar os “inimigos da florestas”.
Dificilmente é localizado pelos caçadores, pois seus pés virados para trás servem para despistar os perseguidores, deixando rastros falsos pelas matas. Além disso, sua velocidade é surpreendente, sendo quase impossível um ser humano alcançá-lo numa corrida.
De acordo com a lenda, ele adora descansar nas sombras das mangueiras. Costuma também levar crianças pequenas para morar com ele nas matas. Após encantar as crianças e ensinar os segredos da floresta, devolve os jovens para a família, após sete anos.
Os contadores de lendas dizem que o curupira adora pregar peças naqueles que entram na floresta. Por meio de encantamentos e ilusões, ele deixa o visitante atordoado e perdido, sem saber o caminho de volta. O curupira fica observando e seguindo a pessoa, divertindo-se com o feito.
Não podemos esquecer que as lendas e mitos são estórias criadas pela imaginação das pessoas, principalmente dos que moram em zonas rurais. Fazem parte deste contexto e geralmente carregam explicações e lições de vida. Portanto, não existem comprovações científicas sobre a existência destas figuras folclóricas.
Viram? Trata-se de um bicho de sete cabeças? Aliás, nem chifres o pobre tem. Ô povo!

O 45º FEFOL BATE À PORTA – DEIXA ELE ENTRAR

A cultura difusa de um país gigante

A cultura difusa de um país gigante

 

Amigos do blog, sem qualquer pieguismo, dou sempre graças a Deus por ter nascido em Olímpia. Porque a cidade é a única no Brasil que tem um festival de grande porte dedicado ao Folclore, à preservação do que nos é- pelo menos deveria ser no todo – mais caro, nossas raízes, e agrupar aqui, a cada agosto, todas as manifestações culturais do país, por meio da música, da dança, da comida e de outras tantas manifestações artistico-culturais.

Manifestações que, a bem verdade, o olimpiense ainda não entendeu na sua essência. Ou talvez não tenha sido educado para tanto. Não é raro ouvirmos expressões de admiração de tantos quantos sabem diferenciar o que é cultura do que é meramente diversão. Mas raramente dos que aqui vivem.

Por aqui, ainda se ouvem muitos comentários e classificações errôneas acerca da nossa festa maior, com muita gente cobrando ‘modernização’, ‘novidade’, ‘cores cintilantes’, ‘beleza plástica’ e por aí afora. Típico de povo que nada mais consegue enxergar além da superfície, além do aparente.

Esquecendo-se de que o Fefol não é ‘festa’ na acepção da palavra, aquela ‘festa’ onde a ordem natural das coisas é o descompromisso, é o ‘deixa rolar’, são as luzes, as cores, a beleza superficial, num mimetismo muitas vezes forçado, no qual a ‘burguesia’ possa estar sem se sentir envergonhada.

Porque, é sabido, o brasileiro tem vergonha de suas raízes. Ao contrário dos povos mais antigos e/ou melhor educados e civilizados, o brasileiro tem vergonha de olhar para dentro de si mesmo. Prefere não saber de qual raiz brotou. Então macaqueia frente aos estrangeirismos, ‘se achando’, como se diz.

Mas, felizmente para nós, olimpienses, malgrado o grande número de concidadãos que pouco valor dão a isso, tivemos entre nós uma figura inatacável chamada José Sant´anna. Que com todos os seus ataques, sua idiossincrasia, ainda é a melhor e mais merecedora figura pública a ser cultuada na cidade.

Ele se foi, e nos legou o festival. Quando vivo, deu-se por inteiro ao seu maior ideal de vida, lutando contra tudo e contra todos, pondo do seu bolso, no que desse, onde faltasse, recurso para uma indumentária, um tênis, um chapéu.

Seus figurantes do moçambique, da congada, das folias de reis tinham que estar impecáveis. Ele via luxo, requinte e beleza, onde muitos viam apenas pobreza. E se estremecia a cada rufar de tambor, se encantava a cada nota de uma flauta, ou acorde de uma viola ou violão.

Muitas vezes cantava junto. Muitas vezes era agraciado com um mimo, que podia ser um chapéu enfeitado, e lá ficava ele, horas a fio com aquilo na cabeça, como se lhe representasse a coroação divina.

Assim era o homem Sant´anna, dado a poucos amigos, dado a fazer confidências a estes poucos amigos, dado a não usar de meias-palavras contra quem não gostava. E não adulava ninguém. Sabia o que estava fazendo. Seguro de si, apenas desdenhava daqueles que não enxergavam a profundidade de cada movimento da dança folclórica.

Generoso, não se furtava a dar explicações detalhadas sobre cada volteio, cada fita, cada tom, cada cor e sabor. Era um poço de sabedoria. Um oásis de conhecimento de nós brasileiros, dos nossos costumes, da nossa gente. A nossa língua, seja a falada de todo dia, sejam as quase não-faladas, a todas ele conhecia.

E só não bebeu desta água quem não quis. Ou não se interessou. Por isso, amigos, volto ao topo deste blog e repito: graças a Deus nasci em Olímpia! Por causa da nossa festa, por termos tido o Sant´anna, por ainda existir o Fefol, e por ele representar o que representa para o país e seu povo. Só por isso.

O FASCISMO MAL DISFARÇADO

Amigos do blog, já não é de hoje que coisas deste gênero vêm acontecendo. E, inclusive, já postei aqui talvez dois ou mais comentários sobre esta mania que o jornalista Antonio Arantes ‘adquiriu’ de malhar nosso trabalho enquanto radialistas, colocando-se, sempre, no quesito jornalismo, acima dos simples mortais.

Mesmo entendendo que a pessoa em questão é uma contradição em si mesma, quanto a seus pensamentos acerca da liberdade de imprensa, democracia, direito à opinião e crítica, e abertura de canais de comunicação para a legítima voz popular, etc. Mas, irrita ler tantas e tamanhas falácias, continuadamente.

A última façanha do ‘nobre’ colega está publicada na edição de sábado (1º/08) do seu jornal, a ‘Folha da Região’, num local nem tão apropriado assim para se manifestar opiniões pessoais, eis que o espaço Editorial de uma publicação jamais pode ser confundido com espaço para inserção de textos que mais se parecem artiguinhos de fundo de página.

A ‘pérola’ de editorial, desta vez foi batizada de ‘O brasileiro não desiste nunca’. Nada mais emblemático. Talvez na sua concepção, ao invés de uma frase afirmativa, melhor caberia uma frase inconformista, para a qual só faltou um ponto de exclamação ao final. Melhor até se acompanhado por uma interrogação: ‘O brasileiro não desiste nunca?!

O ‘Conselho Editorial’ que assina embaixo do título deve ser formado por ele mesmo frente ao espelho ou aos espelhos, para melhor refletir sua multifacetada imagem. E assim, dele para ele mesmo, vão e vêm as opiniões e os pontos de vista, os prós e os contras, chegando à decisão final.

Este ‘cavaleiro armado’ da intolerância ainda não digeriu muito bem, parece, as duas derrotas sofridas no pleito eleitoral do ano passado. A primeira nas urnas, e a segunda na Justiça Eleitoral. A das urnas foi por uma série de circunstâncias. A da Justiça talvez tenha sido em função do entendimento de que “censura já era”.

O ‘nobre’ articulista diz, a certa altura de seu epíteto redatorial que “(…) Na visão da maioria, e até da justiça local, a coisa passou muito dos limites impostos pela ética e pela decência”. Não é bem assim. Tanto que a justiça local não acatou sua ação, obrigando-o a recorrer a São Paulo.

A juíza, a mesma que puniu severamente a nossa emissora, talvez por força do calor do embate, rechaçou de pronto sua tentativa de tornar realidade seus sonhos adormecidos de fascista tardio. Até sábado, sinceramente, não sabia o que pensar sobre a decisão do TRE.

Agora, depois das maltraçadas linhas da ‘Folha da Região’, já sei: venceu a liberdade de expressão. Vencemos nós, pensadores livres. Venceu, aí sim, o povo, que não terá seus direitos à livre manifestação de idéias, pensamentos, e opiniões cerceados por fascistóides solitários.

Quanto ao recurso rechaçado, Arantes analisa, a certa altura: “(…) teve negado provimento, o que significa, que o que está claro para toda a população, não foi entendido como conduta passível de pena (…)”. Ou seja, vê-se, muito bem, nas palavras colocadas, que tratam-se de mera opinião do autor do texto.

Quanto à primeira frase, a que população será que ele se refere? Àquela assistida todos os dias por um canal legítimo de comunicação, e desassistida com a mesma frequência pelo poder público, cheia de angústias e problemas cotidianos, ou àquela população sobre a qual ele acha que exerce influência, ou seja, a que destila preconceito contra tudo o que ‘cheira’ a povo?

E a “conduta passível de pena”, então? Um primor do pensamento fascista. Alto lá, companheiro! Quem decidiu que há pena passível a quem se pauta pela defesa do direito individual e/ou coletivo? Você mesmo, frente a seu jogo de espelhos? Ai, que saudades do ‘pau-de-arara’, nénão?

E agora, amigos, um exemplo típico de ‘pensamento torto’: Ele, o editorialista, praticamente endossa a postura enviesada e cínica da Rádio Difusora, que por ter sido seu proprietário preterido em alguns contratos de fornecimento de som para o município, “tem revelado sujeiras, se verdadeiras, vergonhosas dos bastidores do poder”.

E apenas diz isso, assim, sem julgamento de valor, sem descer a detalhes. Apesar de frisar que tais “denúncias” teriam sido feitas por causa de interesses contrariados. Aliás, as mesmas que fizemos, por querermos as coisas transparentes, sem nenhum viés revanchista. Mas, o crime é nosso. E não de quem o comete. Salve o homem-paradoxo!

Mas, esperem um pouco! O juízo de valor vem logo a seguir! Porque, para ele, a população, ao reclamar na emissora de rádio, o faz “a título de estar indignada” (merece o negrito). Ou seja, na sua concepção, o povo finge que está indignado com o seu governante.

Já que é mentira o aumento escorchante, quase confiscatório, da taxa de lixo, redundando em rebustecimento do valor do IPTU; é mentira o atendimento médico sofrivel ainda, a falta de medicamentos, a truculência no corte do fornecimento de água, a falta de decoro e transparência, as suspeitas de favorecimentos a parentes, funcionários ou não etc. Então, o povo que pare de representar indignação, certo?

Nojo dá quando um veículo de comunicação parte para o pessoal. Invade as quatro paredes, a intimidade de quem, lá dentro, é cidadão, pai de família, ou mesmo filho, irmão, marido, mãe. E não agente público. Este que nem pode, aliás, ser responsabilizado por atos que parentes diretos ou indiretos venham a cometer em sua vida particular, onde que que esteja. Isso é nojento e asqueroso. Doentio, até.

Mais adiante, diz o ‘confortável’ editorialista: “Se tudo que as duas emissoras tem colocado no ar como verdades indiscutíveis, estiverem ocorrendo neste governo, ou no governo que passou, é hora de repensar o mundo”. Não, não é hora de repensar o mundo, ainda!

É hora de repensar o seu jornalismo acomodado, que não o faz sair da cadeira para buscar saber se é ou não verdade o que as emissoras colocam no ar! Que tal mudar seu papel de mero espectador e crítico político e social? Até porque, muito do que as emissoras tem colocado no ar, tem servido também para ancher as páginas do seu semanário.

E misturar democracia, povo e barbárie também é próprio dos pensadores fascistas. E no texto, lá está a ‘mistura fina’. Para o articulista, “se democracia é atender o desejo da maioria, se a maioria se revela sendo o que é (o quê, cara-pálida?), poucos se assustam ou se envergonham desta condição de quase barbárie“. Hu-lá-lá!!

E sobra um ‘pito’ para a Justiça, que não entende de forma coerente o que é certo e errado. Caso contrário, “as diversas formas de cor­rupção e depravação total da sociedade não estariam por aí”. A corrupção do pensamento também está incluída?

Mas, vamos fazer coro ao otimismo inabalável que ele atribui aos brasileiros “que crêem, românticos, quixotescos” (nas instituições, talvez?. Ele não diz). Embora sobre uma sensação danada de que ele, neste trecho, fala de si mesmo, Quixote frente ao espelho.

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