Amigos do blog, eu não tinha ouvido, e só agora o fiz. Mas, antes já tinha lido na coluna do jornal e depois também, como no sábado passado. Trata-se da conceituação de mídia e jornalismo que tem o editor do jornal “Folha da Região”, do qual honradamente fui um dos fundadores.

José Antonio Arantes é useiro e vezeiro em criticar as emissoras de rádio locais e as publicações que, a seu ver, não praticam “o verdadeiro jornalismo”. Para ele há muita bajulação, falta de critério jornalístico e, no caso das emissoras de rádio, uma prática que ele alcunhou de “mentirismo”.

Por seu turno, quando se trata do seu próprio jornal, disse, no programa “A Hora do Pitbull”, na rádio Menina AM, recentemente, em síntese, que não publica “noticias positivas” acerca de qualquer administração, pois isso seria propaganda e como tal, teria que ser paga.

À parte a estranheza que causa tal posicionamento frente a um veículo de comunicação que ele reputa ser o mais respeitado da cidade, fica patente a sua também falta de critério jornalístico, uma vez que, à raiz do mote, ele tem entronizado o cínico apíteto de que, para a mídia, “más notícias são boas notícias”. Sempre.

Temo pelo que penso em função disso: A menos que se pague pelas boas, só as ruins são publicadas. Então, talvez, será que pagando-se as notícias boas, as ruins não deixariam de ser publicadas? Ou não seriam pelo menos mitigadas? O que serve de razão para o modo de Arantes ver a profissão, pode também servir como revelação de intenções inconscientes.

Mas, cada um é cada um. Cada um pode fazer o tipo de jornalismo que julgar o mais correto, mas cada cabeça uma sentença. Cada profissional um pensamento. De minha parte, sou favorável a que o jornalismo – ou que outro nome se queira dar ao ofício nestes tempos de abertura e ampla democratização da mídia – seja mais interativo, mais participativo, mais próximo das massas.

O povo vem sendo desassistido pela imprensa brasileira ao longo da história de sua existência. Que sempre foi e sempre será manipuladora, voltada a interesses de classe, de grupos políticos, de “guetos” (artísticos, musicais, literários – culturais enfim). Sempre foi assim. E sempre será.

Mormente num tempo em que as mídias estão “siamesadas” no interesse comum, intrinseco, bem entendido. Porque por “interesse comum” entendam o interesse delas, as mídias. Sendo assim, o que é notícia, então? O que é informação e o que é manipulação? Quando uma informação não atende a interesses específicos, se nem sempre são de interesse geral?

Por exemplo, à quisa de fazer “bom jornalismo” é mais legítimo um jornal publicar só notícias ruins porque as boas “são propaganda” e têm que ser pagas? E não é legítimo uma emissora de rádio abrir seus microfones e dar vez à voz rouca das ruas, aos reclamos da massa, na busca de soluções?

Jornalismo não é prestação de serviço? Estaríamos nós, então, a serviço de quem? O jornalismo de denúncia não ajuda em nada a mudar uma situação, se o seu objetivo final for só esse: denunciar. Jornalistas em geral costumam alimentar este viés “torto” de pensamento.

Vai lá, denuncia qualquer fato, ganha a manchete principal e depois vai para casa, cônscio do dever cumprido. “A minha parte eu fiz. Agora é com as autoridades”, costuma justificar. E geralmente fica a esperar o desdobramento.

Se esse desdobramento demorar cobra uma, duas, três vezes, depois esquece. Se ele vem de imediato, mas acaba redundando em nada, mancheteia uma indignação qualquer e depois esquece. O “bom jornalista” também se cansa. Mas, onde fica a indignação popular? Ele depois dá vazão a elas por meio de suas próprias linhas de pensamento em artigos ou editorias. Grande papel social!

O amigo Arantes disse no programa que implantou um formato de jornalismo “de noticias e informações” na emissora que trabalhou, início dos anos 80. Houve um tempo, sem dúvidas, que este tipo de formatação era o padrão jornalístico de então – até porque bastava a noticia ou a “informação”, já que ainda luziam ao sol as baionetas e o medalhões.

Portanto, abster-se da opinião era não só mais indicado, como proibido (aqueles que ousaram viraram história ou estão aí de pensamento todo mudado). Talvez venha daí o não-amadurecimento, na minha maneira de ver, da imprensa como um todo. Propaga-se séria e voltada aos interesses do povo, mas representa a ideologia das “castas”, dos senhores feudais, dos coronéis, das oligarquias, dos príncipes e senhores.

Em contrapartida, não há outra maneira de usar as chamadas mídias abertas, como internet e rádio, se não for o mais próximo possível da massa. Dando a ela o espaço para falar, cobrar, gritar, dar vazão à sua indignação, que em outras mídias preferem mitigar, fazendo de conta que se indignam com as coisas.

E nestas midias abertas estariam depositadas as esperanças de fazer uma cidade, uma região, um Estado ou o Brasil serem melhores. O jornalismo interativo é a salvação das almas aflitas do populacho. E não há nada de vergonhoso nisso. Nem de desonesto. Nem de “mau jornalismo”.

Oxalá seja esse o caminho futuro da mídia brasileira. Que ela se agrupe e absorva um novo universo de pensamentos. A imprensa moderna deveria caminhar por aí. O distanciamento jornalístico tende a se encurtar cada vez mais. A massa está cada vez mais sedenta de informação.

Mas, a massa quer também interagir. Mudar seu papel nesse teatro do absurdo que é o cotidiano. A Internet lhe dá isso, diuturnamente. O rádio começa a mergulhar também nesta onda. Os jornais e a TV, premidos por interesses outros ainda se mantêm um tanto retraídos, mas a ficha ainda cai.

A propósito, hoje tornou-se noticia, sim, o cachorro morder o homem. Porque até neste particular houve transformações. Se nos tempos do “verdadeiro jornalismo” apregoado pelo colega, o cachorro só mordia o homem – e assim cumpria com sua função, hoje, o cão, via de regra, tem matado o homem, arrancando-lhe as vísceras. Escancarando suas entranhas. E isso é noticia – não sei se boa ou má. Mas é notícia.